Já é oficial. Existe uma grande crise nas relações entre Jerusalém e Washington. Não se trata duma resposta emocional ou pontual respeito à oportunidade do anúncio de construcção em Jerusalém, senão uma desputa aberta sobre aspectos de vital importância para os interesses israelis e estadounidenses. E ainda quando as fortes personalidades de Barack Obama e Binyamin Netanyahu poidam ter a sua influência marginal sobre o conflito, o autêntico enfrontamento é de políticas e objectivos.
Nestas situações, tanto o Presidente como o Primeiro Ministro são conscentes da enorme asimetria na relação. Os EEUU são o único aliado fiável de Israel, e embora existe certa reciprocidade no que respeita à tecnologia militar e à inteligência antiterrorista, não se dá um balanço equilibrado. Nenhum outro país –especialmente nenhum outro país europeu- proporciona o sofisticado e custoso armamento necessário para proteger as vidas israelis. A ressultas disto, a Casa Branca tem quase todas as bazas ao seu favor, especialmente gozando duma maioria no Congresso (como é o caso).
Mas a história amosa que determinadas questões são tão críticas que inclusso o Presidente dos EEUU não pode tratar de doblegar a Israel. Exemplos importantes incluim o rechaço de Menachem Begin à exigência de Jimmy Carter de congelar indefinidamente os assentamentos durante o encontro de Camp David em 1978, e o rechaço de Ariel Sharon de aceitar a exigência de George Bush de rematar com as operações ánti-terroristas em Março de 2002, tras os ataques de Pesaj, incluído o do Park Hotel. O mais nítido exemplo teve lugar há quadse 50 anos, quando John F. Kennedy exigiu a David Ben Gurion pôr fim ao programa de disuasão nuclear israeli, considerado como imprescindível para assegurar a supervivência judia num entorno muito hostil.
O enfrontamento começou em 1960, quando a Administração saínte de Eisenhower procurava uma explicação para a misteriosa construcção que se emprendera em Dimona. Dixera-se que esta actividade ultrasecreta no meio do deserto era uma inofensiva planta textil, que não se podia visitar. Fotografias classificadas como secretas viram a luz na portada do “The New York Times” (sim, a CIA espiando o Estado Judeu, com ou sem passaportes falsificados).
Quando o Presidente Kennedy chegou ao poder em 1961, o desacordo converteu-se numa crise aberta. Ao igual que Obama, Kennedy não era inerentemente hostil (contrariamente ao que sucedeu com Jimmy Carter), mas também não tinha uma especial simpatia pelo Povo Judeu. Os seus conselheiros incitavam uma pressão permanente, assumindo que Israel não teria mais remédio que aceitar as exigências norteamericanas. Cada encontro de alto nível ou comunicado reiterava a exigência da inspecção de Dimona. Uma forma de pressão consistiu em negar-se a convidar a Ben Gurion à Casa Branca –o seu encontro em Maio de 1961 com Kennedy foi uma reunião informal no Hotel Waldorf Astoria de New York, e esteve marcado por esta polêmica.
Em certo modo, Israel manteve uma posição muito mais débil que a actual. Antes de 1967, as IDF não eram consideradas uma potença a ter em conta, e a economia dependia das remesas massivas da judearia da Diáspora. Se o Governo dos EEUU tivesse optado por aplicar restricções económicas, os custes teriam sido tremendamente elevados. Ben Gurion logrou evitá-lo dando evasivas durante dois anos.
Finalmente, Kennedy dou um golpe acima da mesa, e na sua carta pessoal datada o 18 de Maio de 1963, advertiu que a menos que os inspectores estadounidenses recebessem permiso para acceder a Dimona (o que significaria o remate das actividades militares que ali se vinham desenvolvendo), Israel veria-se totalmente isolada. Em vez de acceder, Ben Gurion demitiu inesperadamente. O ênfase reiterado de Kennedy sobre a “profunda implicação dos EEUU na seguridade de Israel” eram boas palavras, mas como se vira depois da súpeta expulsão de Egito dos observadores de paz da ONU em 1967, Israel não podia depender de ninguém –n em sequer dos EEUU.
O sucessor de Ben Gurion, Levi Eshkol, recebeu a seguinte missiva de Kennedy, que acrescentava aínda a pressão, advertindo que a implicação e apoio de Israel “poderia correr sério perigo”.
Posteriormente, depois de que Lyndon Johnson acceder à Presidência tras o assassinato de Kennedy, a teima reapareceu, com ameaças dum embargo de armamento convencional por parte dos EEUU. Mas Eshkol continuou com o precedente de Ben Gurion. De modo semelhante, em 1969, Richard Nixon e Henry Kissinger figerfam um esforço mais para obrigar a Israel a renunciar à opção dissuasória, e quando Golda Meir se negou, EEUU e Israel acordaram o compromiso tácito de “nada de perguntas, nada de confidências”, que tão bem tem servido a ambos países durante os últimos 40 anos.
Num intento de coimparar e aplicar essa lição à actual crise EEUU-Israel, não se devem ignorar as difernças. Dimona era um assunto bilateral, mas no processo de paz, os palestinianos constituim uma terceira ponla cruzial. Não tem sentido pressionar aos israelis se os palestinianos continuam com a incitação e o terrorismo e rechaçando a legitimidade da soberania judia. E embora os direitos judeus sobre Jerusalém são uma questão essencial para a maioria dos israelis e os judeus, a disuasão estratégica constitui uma categoria única.
A questão, portanto, não é se Netanyahu ou outro dirigente israeli será capaz de dizer “não” ante a decidida pressão norteamericana –existem sobrados precedentes. A questão, mais bem, é se s exigências de Obama são o suficientemente elevadas como para justificar o custe resultante duma escalada no enfrontamento.
Para além do curso futuro da crise, tem ficado clara a necessidade de considerar quais são as prioridades e a política sobre Jerusalém e os temas fundamentais das fronteiras e os assentamentos. Temas que não podem seguir baseando-se em coaligações a curto prazo ou em decisões deixadas nas mãos de burócratas de segundo nível. Quando menos no que a isto respeita, os israelis devem dar as graças a Obama pela crise.
GERALD STEINBERG
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