Comentando a “bronca com Biden” da semana passada, o Presidente Obama afirmou que não havia “crise” engtre os EEUU e Israel, que a iniciativa do Ministro de Interior israeli apenas fora “desafortunada”, e que “o Primeiro Ministro Netanyahu reconheceu-no assim e se desculpou”. Seguro? Daquela por que a Administração dos EEUU montou semelhante alboroto todos estes dias, toda vez que Netanyahu já se desculpara formalmente? Por que a Administração seguiu afirmando que o Governo de Israel –não o Ministro do Interior- insultara aos EEUU? E por que a Administração chegou ao extremo de chamar a consultas ao Embaixador israeli em Washington para dar-lhe uma reprimenda, um duríssimo gesto sem precedentes nas relações diplomáticas, especialmente entre países amigos?
Repassemos os factos. O Vicepresidente Joe Biden aterrizou em Israel o 8 de Março pela tarde. O ambiente era imelhorável. Todos, tanto por parte israeli como norteamericana, lembravam que Biden, na sua anterior etapa, sendo aínda senador, fora um dos mais fidedignos amigos de Israel no Capitólio.
O 9 de Março transcorreu igualmente de maneira idílica. Quer dizer, até as 6 da tarde. A partir daí, salta a notícia, procedente de fontes do Ministério do Interior: Israel dispõe-se a construir 1.600 apartamentos em Ramat Shlomo, um bairro do norde de Jerusalém que a Administração Obama considera parte de Jerusalém Leste, quer dizer, “um território palestiniano ocupado”. (As anteriores Administrações dos EEUU tiveram diversas posições sobre Jerusalém Leste: aquelas partes da cidade que eram terra de ninguém ou que estiveram baixo a ocupação jordana até 1967. Mas geralmente coincidiam em que o seu estatuto legal definitivo estava aínda por decidir, e deveria ser estabelecido nas negociações entre israelis e árabes, ou entre israelis e palesinianos).
Semelhava uma patochada israeli, ou inclusso uma provocação, toda vez que Netanyahu aceitara a petição de Obama, uns seis meses antes, de congelar durante uns meses a construcção de assentamentos no West Bank –aínda que não em Jerusalém Leste. Biden insistia no das desculpas. Netanyahu amosava-se ansioso por deixar aparcado o incidente –ele e a sua dona supunha-se que tinham que receber aos Biden essa mesma noite para cear- e desculpou-se uma e outra vez com ele.
Sem embargo, ficou imediatamente claro que não havia decisão alguma por parte israeli de expandir Ramat Shlomo. O Primeiro Ministro israeli não aprovara semelhante decisão. O Ministro do Interior israeli –Eli Yishai, do Partido ortodoxo sefardi Shas- também não o figera. Só existia uma luz verde, a um nível burocrático muito inferior no Ministério, de revisar um projecto de edificação, sem nenhum tipo de implicação governamental aínda. Lara Friedman, uma analista que trabalha para Americans for Peace Now, um grupo activista que se opõe a qualquer tipo de assentamento israeli para além da linha verde anterior a 1967, manifestou:
“Tudo isto tem sido considerado por muitos como uma bofetada deliberada no rosto do Vicepresidente Biden por parte do Governo de Israel. Os factos são menos evidentes. Desde o nosso ponto de vista semelha quase comprovado que o Primeiro Ministro Netanyahu não sabia nada do plano nem fora advertido que seria tomado em consideração e aprovado para a sua revisão pública nesse momento. Igualmente, este não é o tipo de coisas que dependam da autoridade do Alcaide (de Jerusalém) Barkat. Se o momento de fazê-lo público foi deliberado, daquela a culpa é mais bem do Ministro do Interior, Eli Yishai (Shas) ou dalgum mando intermédio da burocracia do Ministério do Interior”.
Friedman acrescentou:
“Deveria-se sublinhar que este é um plano do Governo, não um plano privado. O que significa que o Governo tem o controlo ao 100% de se o plano vai para adiante. O Governo poderia retirar o plano em qualquer momento, se quiger fazê-lo. Em circunstâncias semelhantes é o que em 1995 o Primeiro Ministro Rabin fixo, precisamente”.
Poderiamos ter agardado que a Administração Obama se desse por satisfeita com as desculpas de Netanyahu, ou que, quado menos, prestasse certa atenção ao informe de Americans for Peace Now. Em vez disso, incrementaram os ataques contra Netanyahu e contra Israel. E isto é o que converte toda esta história em algo verdadeiramente asombroso.
Os problemas surgem uma e outra vez entre os bons amigos e entre os países aliados. A pesar da sua relação especial, os EEUU e o Reino Unido têm mantido diferenças com freqüência. Mas os amigos e os aliados, geralmente, procuram limar os pontos de fricção. De facto, isto é o que valida o seu vínculo. Doutra banda, quando um amigo ou um aliado permite que o desacordo vaia em aumento até provocar uma crise ou prender o fogo, isso vaticina que já não serão amigos ou aliados por demassiado tempo.
Lembremos a Jacques Chirac, Presidente da França entre 1995 e 2007, que, nuyma visita de Estado a Israel em 1995, converteu um malentendido menor com a escolta de seguridade israeli na Cidade Velha num altercado entre ambos países. Chirac provocara umas desculpas absolutamente inecessárias do daquela Primeiro Ministro Netanyahu. Tal actitude simplesmente antecedia o que haveria de se passar: o alinhamento de Chirac com Yasser Arafat e personagens semelhantes no Meio Leste.
Está claríssimo que se tem producido um intento, nalgum escalafão muito alto da Administração Obama, de tirar um benefício político do anúncio de Ramat Shlomo. E quizá de aproveitar tal anúncio, em primeiro lugar. Analisemos: a gente do Shas foi talvez responsável do equívoco comunicado procedente do Ministério do Interior o dia 9 de Março; mas não esqueçamos que existem muitos burócratas de esquerda em quase todas as escalas de Israel, e pode que alguns de eles desejassem promover algo que poderia aparecer como uma provocação de Netanyahu –já for por iniciativa e cálculo próprios, ou a petição de amigos estadounidenses ou europeus activos no movimento pro-palestiniano. A gente pode ser manipulada de muitas formas. Alguns podem ser comprados com dinheiro, ou honras, ou com a vanaglória acedêmica. Muitos estám decididos a desfogar-se na sua ideiosincrásia. Existe um algo muito veloz e de gatilho rápido na maneira em que o Vicepresidente Biden e a Secretária de Estado, Hillary Clinton, atacaram a Netanyahu como para descartar essa especulção às primeiras de câmbio.
Igualmente humilhante resultou, nesse sentido, a pouco protocolária chamada a consultas doi Embaixador israeli Michael Oren, um historiador de primeira linha que tem escrito extensamente sobre a Guerra dos Seis Dias e os antigos interesses dos EEUU no Meio Leste, e que é provavelmente o melhor advogado dos seus interesses que Israel poida ter hoje nos EEUU. Tratá-lo como se for o enviado dum Estado bananeiro não pode ser algo casual. Evidentemente, o que a Administração Obama tinha em mente era despojá-lo de boa parte da sua autoridade natural e carisma.
Accidental ou premeditado, o linchamento de Netanyahu, Israel e Oren provavelmente teve algo a ver com a Conferência da AIPAC que haveria de ter lugar entre o 21 e o 23 de Março. A maioria dos judeus estadounidnses –o 77% deles- votou por Barack Obama em 2008. Muitos perguntam-se hoje se figeram o correcto. Os desacordos podem conduzir ao desafecto, uma perspectiva nada boa num ano de eleições em outono. E velaí a solução: converter a Netanyahu num mero provocador que insulta aos EEUU, e a Obama nuym genuíno amigo de Israel.
Porém, a minuciosa operação semelha ter saltado pelo ar. Quanto mais a gente dá voltas à questão, mais evidente lhes resulta que é Obama quem tem insultado a Israel –e ao povo norteamericano. Não ao revês. Obama estava agora ansioso de encontrar-se com Netanyahu no marco na Conferência da AIPAC. Todo um câmbio de actitude em apenas uma semana.
MICHEL GURFINKIEL
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