18/03/10

CHEIRA A QUARTELAZO

O discurso dos palestinianos e a dos meios de comunicação israelis tem rematado por ser exactamente idênticos. Semelha que têm conspirado juntos para promover um quartelazo contra o Primeiro Ministro israeli.

O que se tem passado em Israel nos últimos dias cheira a intento de golpe de Estado. Tal vez sem coordinar, mas numa inegável afinidade ideológica de interesses, o Governo dos EEUU, a Autoridade Palestiniana e os mass media israelis, têm-se agrupado num perigoso e ánti-democrático movimento de pezas. Um quartelazo contra o Primeiroi Ministro de Israel e contra as decisões adoptadas tras umas eleições democráticas.

Justamente há um ano que os israelis acudiram às urnas. O voto foi inequivocamente partidário do Sionismo, contrário a um Estado palestiniano, e pro-Jerusalém. Jerusalém unida e na sua totalidade: o sonho de várias gerações. Houvo, sem embargo, três partes que não gostaram dos resultados saídos das urnas: os palestinianos obviamente, os Estados Unidos e os mass média israelis. No que respeita aos palestinanos, não temos nada que dizer: é lógico, são os nossos inimigos. Os norteamericanos são transparentes. A Administração Obama, atemorizada e claudicante ante um Iran que se nucleariza a marchas forzadas, não desaproveita nem a mais mínima oportunidade de atacar ao Governo de Israel. Os prazos a seguir apenas foram uma excusa. Um truco de Obama amplificado pela imprensa israeli, afogada na ciénaga do seu obsessivo ódio face a direita e Netanyahu, que se amosou gostosa de compartir com ele. Não se trata já de esquerda e direita. Não é questão dum enfoque táctico ou de outro. Trata-se de que temos apostado pelo núcleo troncal do que é o projecto histórico do sionismo. Chegados a este ponto, a imprensa israeli, praticamente ao unísono, decidiu dar a espalda ao sonho sionista.

Não há outra explicação para analisar o que tem sucedido aquí. Apenas quatro meses atrás, 30.000 residentes do vizindário de Gilo acordaram pela manhã e acharam que, de súpeto, eram “colonos”. Agora é o turno dos seridentes de Ramat Shlomo, o vizindário adjazente a Ramot, no norde de Jerusalém. Os jornalistas israelis amosam uma destas duas coisas: ignorância geográfica ou maldade ideológica, na medida em que fazem que a comunidade internacional perciba que a construcção de vivendas planificada tem algo a ver com os órgaos de decisão dos palestinianos.

Ide agora a explicar àqueles que não têm porque sabê-lo que ali não há –nem nunca houvo- árabes. Até que a imprensa israeli, claro, começou a berrar que “há um problema”. Nem sequer se lhes tinha ocorrido aos árabes protestar pela construcção. Nem fazer objecções aos planos. Apenas três anos atrás, Yuli Tamir, a “Princesa” de Paz Agora, premiou com o Prémio Israel de arquitectura ao arquitecto que desenhou o vizindário de Ramat Shlomo e o bairro de Pisgat Ze'ev, que está junto a ele pelo leste.

Ramat Shlomo tem o mesmo estatuto que Gilo, que Ramat Eshkol (com 25.000 habitantes), que Armon Hanetziv (17.000 habitantes), e que a metade da nossa capital. Não é um assentamento no meio duma vila árabe. É uma construcção que jamais um Primeiro Ministro, de esquerdas ou direitas, sonhou nem sequer com deter; nem sequer por um instante. Se alguém quere detê-la, deve ter a suficiente honestidade de proclamar que quer desmantelar tudo e regressar às fronteiras do ghetto de 1949. E velaí tendes o sucedido na inauguração da Sinagoga de Hurva, no bairro judeu de Jerusalém. Num Estado judeu soberano é perigoso inaugurar uma sinagoga que os árabs destruíram em 1948, porque poderia alterar a paz dos palestinianos.

Há momentos na vida em que caberia agardar que inclusso os mass media israelis deixassem a um lado todo o seu ódio e desejo de vingança política, a fim de movilizar-se a favor do sonho sionista, e que apoiassem ao Governo de Israel no labor de clarificar aos EEUU que esta vez têm sobrepassado todas as linhas vermelhas. Em vez disso, fazem ver a Obama e Abu Mazen que são fieis cães nos que se pode confiar. Hillary Clinton sabe que só necessita susurrar aos mass media israelis que botou uma reprimenda telefónica de 43 minutos a Netanyahu. Os mass media branquiazuis encarregarão-se de amplificar a sua histéria.

Esta história não é algo novo. Esta nova fase tem dado começo na cidade de David. Inclusso Gideon Levy sabe que os árabes que vivem nesta zona contravêm as ordeanças de edificação. Nenhum de eles tem solicitado jamais –nem recebido- permisos para colocar nem um ladrilho. E a quem culpam os mass media israelis? Ao alcaide de Jerusalém, Nir Barkat, que apenas trata de pôr orde. Depois chegou o “Projecto do Patrimônio Histórico”. Existe alguém que falando em sério não comprenda que sem a Tumba de Raquel ou a Tumba dos Patriarcas não temos patrimônio histórico? Pois é igual. A quem culpavilizaram os mass media israelis das revoltas? Por suposto: a Netanyahu.

O discurso dos palestinianos e o dos mass media israelis é idêntico. De facto, solapam-se. Coincidem plenamente na necessidade de retirada, de escapar, de render-se absolutamente às pretensões dos terroristas. Qualquer pretexto é bom. Para a História do Povo Judeu não existe lugar no seu calendário.

Ontem, uma nova árvore à que agarrar-se brotou, sob a forma do jornalista norteamericano Thomas Friedman, que se uniu às críticas contra o Governo israeli ao comparar a este com um “condutor ébrio”. Com todo o devido respeito ao Sr. Friedman: a história judia com mais de 3.000 anos de antigüidade de Jerusalém não vai ser escrita num teclado do The New York Times, Os únicos borrachos que há aquí são os jornalistas ébrios do seu poder de fazer dano.



KALMAN LIBSKIND e AREL SEGAL

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