16/03/10

OBAMA CONTRA ISRAEL


Nas últimas semanas, a Administração Obama tem aplaudido as “saudáveis relações” entre Iran e Síria, reprochado tenuemente ao Presidente sírio Bashar Assad pelas suas acusações contra os EEUU de “colonialismo”, e apresentado públicas desculpas a Muammar Gadhafi por tê-lo tratado com escasa deferência, depois de que o dirigente líbio chamasse à Yihad contra Suíza.

Quando se trata de Israel, sem embargo, a Administração Obama não tem problema em alcançar as mais desaforadas quotas da indignação pública. Numa visita a Israel a passada semana, o vicepresidente Joe Biden condeou o anúncio efetuado por um cárrego intermédio do Governo israeli aprovando um protocolo –o quarto de sete requeridos- para a construcção de 1.600 unidades residenciais no norde de Jerusalém. Assumindo que finalmente seja ratificado, o projecto não daria começo até, pelo menos, dentro de três anos.

Mas nem sequer as reiteradas desculpas do Primeiro Ministro israeli Binyamin Netanyahu evitaram que a Secretária de Estado, Hillary Clinton –no que fontes da Casa Branca afirmaram que constituia a opinião pessoal do Presidente Obama- qualificasse o anúncio de “insulto aos Estados Unidos”. O portavoz da Casa Branca, David Axelrod, apareceu ontem em “Encontros com a imprensa”, na cadeia NBC, criticando a Israel pelo que descreveu como uma “grave afrenta”.

Dado que ninguém está defendendo o anúncio feito por Israel, e menos que ninguém um confundido Executivo israeli, é dificil comprender por que a Administração tem eligido a ocasião para encender a chama duma grave crise diplomática com o seu mais provado aliado no Meio Leste. A visita do Sr. Biden estava programada com a finalidade de convencer aos israelis de que a Administração dos EEUU está plenamente comprometida com a seguridade e a legitimidade de Israel. Num discurso na Universidade de Tel Aviv, dois dias depois do anúncio israeli, o Sr. Biden agradeceu publicamente ao Sr. Netanyahu que “reconduzisse o processo para evitar que algo assim volva suceder”.

A posterior escalada verbal da Sra. Clinton só cabe entendê-la como uma desmedida reprimenda pública aos israelis, mas a sua lógica política e estratégica é todo um mistério. Os EEUU precisam da aquiescência de Israel nos esforços da Administração Obama para deter o programa nuclear iraniano atravês das sanções e da diplomacia. Mas a inibição de Israel irá em proporção directa à sua percepção de que as garantias de seguridade que lhe ofereçam os EEUU sejam sólidas. Se Israel percibe que a Administração Obama apenas está à procura dum pretexto para romper as relações, terão muito menos em conta a reacção dos EEUU a um ataque militar contra Iran.

No que se refire aos assentamentos no West Bank, cada vez é mais dificultoso argumentar que a sua existência seja um obstáculo essencial na consecução de um tratado de paz com os palestinianos. Israel desmantelou todos os seus assentamentos em Gaza em 2005, apenas para ver como a Faixa se convertia num pseudo-Estado de Hamas e na base dum permanente ataque com mísseis contra os civis israelis.

A ansiedade de Israel provocada pelo papel dos EEUU como mediador diplomático honesto não se verá aliviada precisamente com a neurastênia da Administração Obama no projecto de construcção em questão, que cai dentro dos limites municipais de Jerusalém e que unicamente pode ser qualificado de “assentamento” se se adoptam os termos maximalistas que utilizam os palestinianos. Qualquer tratado de paz realista deverá incluir um reajuste das fronteiras de 1967 e um intercâmbio de territórios –aspecto formalmente já reconhecido pela Administração Bush antes da retirada israeli de Gaza. Se a Administração Obama opta por converter-se –como têm feito os europeios- noutro bufete de advogados dos palestinianos, encontrará que cada vez será mais dificil que Israel faga concessão alguma.

Esse seria o desenlaze preferido dos inimigos de Israel, tanto no mundo árabe como em Ocidente, na medida que permitiria apresentar a Israel como a parte intransigente que se interpõe no caminho da “paz”. O por que uma Administração que tem proclamado repetidamente a sua amizade com Israel quereria que isso se passasse já é outra questão.

Novamente este episódio reafirma o patrão que está seguindo a política exterior do Sr. Obama: agradar aos nossos inimigos, exercer pressão sobre os nossos amigos. É o que fixo com Polônia, a República Checa, Honduras e Colômbia. Agora é o turno de Israel.



THE WALL STREET JOURNAL

(Editorial do 15 de Março de 2010)

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