O assassinato em massa de um terzo da Judearia mundial foi um dos mais traumáticos sucessos da história judia, um evento que praticamente borrou na sua totalidade a presença judia no Leste europeu. É um facto que não tem paralelismo na história, e que permanece como récord absoluto da infâmia pela sua absoluta insuperabilidade, a profundidade do ódio e o nível de horror e atrozidade perpetuado pelo Homem com ajuda da tecnologia moderna. No período posterior à carnezaria do Holocausto, os superviventes chegaram aos EEUU e à Terra Prometida com a firme determinação de reconstruir a vida que fora cruelmente segada. Desafiante, o Estado Judeu surgiu unido ao berro de “Nunca mais!”. A promesa de que o sangue judeu nunca mais seria derramado docilmente, de que os judeus não voltariam sofrer em silêncio, de que teriam o poder suficiente como para defender-se por sim próprios.
Conforme passaram os anos, muitos judeus perderam a sua vinculação com o Judaísmo, embora a emoção seguisse aflorando quando a lembranza do Holocausto comovia os seus corações e sentimentos. Para os israelis, arrodeados por um mar de nações hostis determinadas a destruir o Estado Judeu, o espectro do Holocausto mantem-se a flor de pele. O Estado de Israel, segundo muitos, é o seguro de vida do povo judeu no caso doutro Holocausto. Para os judeus norteamericanos, o sofrimento e pesares dos seus compatriotas europeus é um signo de identidade. Andam inclusso à caza de signos dum iminente desastre, de brotes de ántisemitismo, resoltos a não volverem ser colhidos com a garda baixa.
Para muitos judeus, o Judaísmo é um sinônimo de Holocausto. O Holocausto ocupa uma significativa parte do currículum nas escolas judias. Para aqueles que carecem, ou têm uma escasa, educação judia, a sua primeira emoção “judia” é freqüentemente a visita ao Museu do Holocausto. Em cada celebração judia na que participam, seja o ocassional “servizo no Templo”, a bar mitzvá ou qualquer outra celebração, o Holocausto sempre é mencionado e comemorado. Uma novedosa (e aterradora) prática está surgindo nalgumas cirimónias de bar mitzvá, onde os rapazes são “emparelhados” com rapazes mortos durante o Holocausto que não tiveram a ocasião de celebrar o seu bar mitzvá.
A transformação do Judaísmo num culto de celebração do Holocausto deveria repeler e impresionar a qualquer judeu observante. É a fórmula perfeita para o derrotismo e a assimilação, na medida em que o Judaísmo converte-se em algo negativo, associado ao ántisemitismo e a tragédia. O Holocausto não proporciona razão alguma a um judeu desconectado para seguir sendo judeu, para casar com alguém judeu e levar uma vida judia; só sentimento de culpabilidade. O Holocausto não nos ensina nada sobre o Judaísmo, sobre a sua beleza e a profundidade da sua doutrina espiritual, ou a intensidade do seu legado moral.
De modo semelhante aos seus colegas dos EEUU, muitos israelis acreditam que o Estado de Israel existe só devido ao Holocausto. Todos e cada um dos delegados estrangeiros do que seja são levados a visitar Yad VaShem para que sejam testemunhas da destruição dos judeus de Europa (e a mensagem subliminal é que essa é a alternativa de Israel ao combate). Mas é neste clima que o ditador de Iran, assim como muitos outros educados e sofisticados árabes, negam o Holocausto com impunidade, acreditando que sem o Holocausto, a totalidade do edifício sobre o que se sustenta o sionismo colapsará.
A memória dos 6 milhões de sagrados judeus assassinados no Holocausto debe ser perpetuada e lembrada. Sem embargo, deve ser recalcado bem clarinho que Yad VaShem não é Israel e Auschwitz não é o Judaísmo. Houvo judaísmo antes de 1939, e aquela persecução e opressão não têm por que ser parte integrante da nossa identidade. O Estado Judeu não existe devido ao Holocausto, senão a pesar de ele.
O núcleo do Judaísmo é, e debe ser por sempre, a revelação pública do divino no Sinai, e o pacto eterno entre o Povo Judeu e D’us. O Judaísmo radica no facto de D’us ter-se revelado a Sim próprio diante de milheiros de pessoas no Monte Sinai, e de ter entregado ao povo de Israel a Sua Torá, o manual de instrucções de D’us para a vida cotidiana, uma guia para uma vida de bondade, benção e significado. Todos e cada um dos judeus estám ligados a estes mandamentos e ditados, e devem seguir os seus preceptos e ensino. Vivendo conforme às leis da Torá, o judeu alcança a santidade e faz-se merescedor de D’us. É esta crença o que manteve aos judeus fortes a pesar dos séculos de terríveis condições. Quando a sua situação puido ter sido aliviada através do baptismo, a conversão ou a assimilação, eles aferraram-se aínda mais forte à sua Torá e o seu D’us. Isso é o que evitou que os judeus desaparecessem entre o resto das nações: que o Seu D’us falou-lhes desde o Fogo e vencelhou-se a eles mediante um contrato imperecedeiro.
O nosso direito à Terra de Israel procede do Sinai –e não da Conferência de Wansee. O mesmo D’us que proclamou aos Filhos de Israel: “Eu sou o Senh’r, o vosso D’us”, prometeu-lhes a Terra de Israel. Pela Sua palavra, o Povo Judeu entrou na Terra e conquistou-na. Pela Sua palavra foram exilados tras rebelar-se contra os Seus mandamentos, e pela Sua palavra estám retornando a reclamar a herdança roubada. Baseando o direito à existência de Israel no Holocausto, estamos dando a oportunidade a Ahmadineyad de perguntar retoricamente por que não compensam os alemães aos judeu entregando-lhes terras onde construir um Estado. Se Israel só é um território para judeus perseguidos, não há razão alguma para que os árabes devam sofrer pelos crimes cometidos pelos europeus. Israel funda a sua legitimidade no Sinai e o Estado moderno é simplesmente a continuação dos Reinos de David e Salomão, da dinastia Hasmonea, retomada tras um parêntese de 2.000 anos.
A ideia nuclear do Estado de Israel não pode ser meramente um desafio a Hitler e a Solução Final. O Holocausto deverá ser sempre lembrado, e cumpre lutar para evitar que volva ocorrer, mas não pode ser o ponto arredor do que gire um Estado Judeu. Para acalar aos nossos críticos e a quem nos ódia, devemos abrazar as nossas raízes mais profundas na Terra, e reafirmar o nosso compromiso com os valores do Sinai. Yad VaShem não deveria converter-se na primeira e única parada obrigatória dos diplomáticos estrangeiros, senão apenas uma de tantas, que amosasse a complexidade da história judia, os altos e baixos do nosso povo. Os diplomáticos deveriam ser conduzidos a Jerusalém, a capital reconstruída da nação judia, da que os nossos ancestros se laiavam quando na sua cautividade clamavam: “Se eu te esquecer, oh Jerusalém, que a minha mão direita perda a sua destreza!”. Deveriam ser levados a Hebron, o fogar e lugar onde repousam os restos dos nossos Patriarcas Abraham, Isaac e Jacob. Deveriam visitar Masada, onde os bravos guerreiros judeus sacrificaram as suas próprias vidas antes que ser tomados como escravos pelos romanos. Deveriam visitar a Sinagoga e as yeshivot da Cidade Velha, para demonstrar-lhes que o Judaísmo tem volto a casa, ao seu lugar de nascimento.
O legado do Sinai levaria-nos a ser uma Luz entre as Nações, no combate pela liberdade, os direitos humanos e a dignidade. O Holocausto e os seus horrores só podem ser entendidos através do esquema tradicional do Judaísmo. Por sim sós, não nos proporcionam nada de valor sobre o que seja o Judaísmo, e não nos dam direcção, sentido ou significado algum. Só abrazando o Sinai podemos ter a esperança de construir uma sociedade baseada na moral, na ética e nos valores da santidade. É o Sinai quem pode transferir energia às apáticas massas, revigorizar à desconectada juventude judia. A Torá, e não as Leis de Nuremberg, será quem detenha a marea de assimilação e olvido espiritual. Dar-nos-á a coragem para combater pela nossa Terra, e a fortaleza para não nos submeter e pedir desculpas ante os que nos ódiam. O Sinai é o coração autêntico do Judaísmo.
BAR KOCHBA
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