23/12/09

BABEL XXI



Israel não tem mais remédio que pôr fim à aliya e revocar a Lei de Retorno. Algo no que levamos já uma década de retrasso.

Arredor de 1993 rematou a aliya da judearia soviética, e apenas ficaram bolsas de potenciais imigrantes judeus no mundo. A imensa maioria da grande Diáspora judia nos EEUU, Canadá, Austrália e a França não tem pensado desprazar-se a Israel. Inclusso no improvável caso duma situação de emergência, marchariam a qualquer outro país occidental antes que a Israel. Para além disso, Israel sempre poderia adoptar uma legislação de emergência, chegado o caso, para permitir a entrada de judeus norteamericanos e europeus.

A partir de comezos da década dos noventa, a aliya não tem feito mais que incrementar o que custa denominar de maneira distinta a “judeus de pega”: eslavos que descobriram um tataravó judeu, cristãos etíopes aos que se lhes dixo que os seus remotos ancestros foram judeus conversos, paganos hindus proselitizados para o judaísmo, e coisas semelhantes.

Mas a aliya tem-se convertido em algo perigoso, sobretudo, em duaas das suas variantes: os conversos e os árabes. Actualmente os esforzos de Israel centram-se em deter a migração de negros ilegais. E que vamos fazer se comezam a abrazar o judaísmo em Kenya? Os negros têm pensado honestamente acudir a uma sinagoga (provavelmente financiada por alguma ONG judia-norteamericana, aprender honestamente o que é o Judaísmo, abrazá-lo honestamente, e praticá-lo honestamente no seio da sua comunidade durante nove meses, como estipula a legislação actual? Em três anos uma quantidade potencialmente ilimitada de judeus de novo cunho estaria chamando às portas de Israel. As autoridades rabínicas de conversão poderiam promulgar impedimentos adicionais, mas uma vez que os mass media se comovessem com os nergos praticando “judaísmo” e vendo como se lhes nega a entrada a Israel, as protestas rematariam obrigando-nos a permitir o seu accesso no país. Este foi exactamente o cenário que se dou com os Falash Mura cristãos, e que se está repetindo com os prosélitos hindus Bnei Menashe. O nosso país vería-se asulagado de aderentes ao judaísmo que, sem embargo, são falsos judeus.

O judaísmo nunca foi só uma questão de religião. Os idólatras judeus dos tempos do Tanaj eram considerados judeus. Porém, os samaritanos, que aderem ao judaísmo, não eram considerados judeus e foram rechazados quando trataram de unir-se a nós na construcção do Segundo Templo. Vários pequenos reinos converteram-se ao judaísmo, mas até onde estamos informados os seus residentes não se assimilaram na nação judia.

Este é o quid da questão: os judeus não conformam apenas uma religião, senão uma nação. Qualquer pessoa pode aderir uma religião determinada, mas uma nação vem definida por outros aspectos: tradições continuadas, história e cultura comuns, e a apariência dos seus cidadãos. Se vos soa razista, sabede que não o é. Os negros e os índios não têm nada de máu, mas eu estou acostumado a que os judeus sejam, mais ou menos, brancos. Não há problema algum em assimilar um pequeno número de judeus negros –não o 2% da população que o Governo israeli tem traído ao nosso país-, mas eu não estou preparado para que a nação judia de súpeto seja negra. Carecem da nossa cultura, da nossa história, do nosso aspecto: não são como nós.


Fixade-vos nisto: o 90% da população mundial é mais pobre que os israelis, e o 80% são mais pobres que os pobres que haja em Israel. Gostaria-lhes viver aquí, e muitos de eles não têm problema algum em cambiar a sua religião de crenzas paganas a tal fim. Se os judeus acordam continuar com o fluxo de chegada de benvindos prosélitos, que pelo menos recibam com os brazos abertos a gente que seja semelhante a nós: comezemos fazendo proselitismo em Bielorrússia, por exemplo. Quando menos, demos certificado de judeidade àqueles que estejam acostumados a trabalhar duro e que aprezem a educação –e que se podam integrar na nossa economia desenvolvida.

Os profetas vaticinaram o dia em que todas as nações reconheceriam o D’us judeu. Semelha termos chegado ao fim dos tempos e isso está acaecendo agora. Pois muito bem. Mas não é preciso que se desprazem à nossa Jerusalém. Que se sintam judeus e vivam nos seus países de residência. Tras uns quantos séculos de persecução ali, uma história de superivência e combate contra os seus detractores locais, os prosélitos de hoje poderiam chegar a ser considerados como nós –se não no seu aspecto, pelo menos nos seus patrões de conduta. Mas a dia de hoje, não.

A Lei de Retorno também é um perigo a causa dos árabes. Se Israel joga a ser uma democracia etnicamente cega, como dar a benvinda a judeus que na sua vida têm posto um pê aquí e negar-se a ré-admitir aos árabes que viviam aquí apenas 60 anos atrás? Os refugiados judeus do 135 a.n.e podem regressar, mas não os refugiados árabes de 1948? Os árabes e os ultraesquerdistas têm cursado infinidade de reclamações ante a Corte Suprema nesse sentido, negando-se esta a tomá-las em consideração –porque não existe base legal para tão tremenda discriminação. A única solução é renunciar ao carácter de Israel como sociedade etnicamente cega –e inclusso como sociedade religiosamente cega e historicamente cega; mas os defensores do Helenismo democrático não estám pelo labor. De modo que temos que suturar o vazio legal da Lei do Retorno antes de que os árabes entrem a borbotões através de ele.

Um regueiro de imigração “judia” continuará através da Lei de Retorno, através dos planos de reunião “familiares”. Israel praticou este tipo de imigração com a URSS: os judeus russos receviam convites de remotas –ou inexistentes- tia-avoas israelis. De ser levados a cabo com um minucioso escrutínio pelo Ministério de Interior, não teriam accedido ao país –como também não seria admitido que houvesse árabes no nosso país.

Derrogar a Lei de Retorno seria o lógico para a moderna identidade judia. Essa Lei dá entrada a nihilistas judeus, deturpando a componhente religiosa da judeidade. Fechando Israel à imigração, criaríamos uma nação israeli de judeus e sémi-judeus, e livre de árabes. Os israelis seriam uma modélica entidade política. Demonstrariam a sua judeidade combatendo por Israel e pagando impostos aquí. Na Diáspora a identificação política não serve para nada, e a judeidade seguirá sendo definida em termos meramente religiosos.

A diferenciação política e religiosa aqui proposta não é nada novo. Existiam judeus muito diferenciados em Israel e Judea –e depois em Judea e Samaria. As comunidades de prosélitos judeus são benvindas, sempre que se desenvolvam na Índia ou em Etiopia. Mas não há sítio em Israel para uma Torre de Babel.


OBADIAH SHOHER

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