26/12/09

LAWRENCE DE JUDEA



T. E. Lawrence –mais conhecido na Grande Bretanha e no Meio Leste como Lawrence de Arábia- foi durante toda a sua vida um grande promotor das aspirações nacionais árabes. Em 1917 e 1918 participara como oficial na revolta árabe contra os turcos, uma revolta liderada por Sharif Hussein. Foi também conselheiro do filho de Hussein, Feisal, a quem agardava ver algum dia no trono de Síria. Para varias gerações de arabistas britânicos, Lawrence foi e segue sendo um símbolo da comprensão britânica e do apoio à causa àrabe. Praticamente desconhecida, sem embargo, é a sua comprensão e apoio às aspìrações nacionais judias na mesma época.

A mediados de Dezembro de 1918, um mes depois do remate da 1ª Guerra Mundial, Lawrence foi uma peza capital na consecução dum acordo entre o Emir Feisal e o dirigente sionista, o Dr. Jaim Weizmann. O enconbtro teve lugar no Hotel Carlton de Londres (un edifício que tempo depois sucumbiria ao blitz sobre a capital britânica na 2ª Guerra Mundial). Neste encontro, Lawrence agiu de intérprete. Weizmann assegurou a Feisal que os sionistas seriam quem de levar a cabo em Palestina “obras públicas de longo calado” e que o país “avanzaria até tal ponto que haveria lugar para dar acolhida a quatro ou cinco milhões de judeus, sem necessidade de alterar os direitos de propriedade dos camponeses árabes”.

Tal e como escreveu Weizmann nas suas notas sobre a reunião, Feisal explicou que “seria curioso que houver fricções entre judeus e árabes na Palestina. Não tem havido fricção em país algum onde árabes e judeus vivem juntos. Ele [Feisal] não acreditava em absoluto que houver escasez alguma de terras na Palestina. Os residentes sempre teriam avondo, especialmente se o país experimentava um desenvolvimento. Para além do qual, haveria suficiente terra no seu distrito”.

O 3 de Janeiro de 1919, Feisal e Weizmann encontraram-se novamente em Londres, para asinar um “Acordo entre o Rei dos Hedjaz e os Sionistas”. Lawrence, que foi novamente o fio condutor deste acordo, agardava que isto assegurasse o que ele, Lawrence, qualificou como “as linhas da convergência das políticas árabe e sioinista num próximo futuro”.

O 1 de Março de 1919, Lawrence, mentres estava em Paris como representante britânico com a Delegação Hedjaz, escreveu de punho e letra uma carta de Feisal dirigida ao sionista estadounidense Felix Frankfurter. Neste documento, Feisal declarava, “Nós, os árabes, especialmente os que temos recebido uma educação, olhamos com a mais profunda simpatia o movimento sionista”. Feisal foi para além ao afirmar que Weizmann “tem sido uma grande ajuda à nossa causa, e agardo que os árabes estejam bem cedo em posição de dar algo a câmbio aos judeus pela sua amabilidade. Estamos trabalhando juntos por um Oriente Próximio reformado e revitalizado, e os nossos dois movimentos complementam-se mutuamente”. O movimento judeu, continuava Feisal “é nacioinal, e não imperialista: o nosso movimento é nacional e não imperialista, e há sítio em Síria para ambos. É mais, acredito que nenhum de ambos trunfará se não o faz o outro.”. Acrescentava depois Feisal, com palavras rotundas e optimistas: “Agardo, e o meu povo agarda comigo, um futuro no que vos ajudaremos e vos nos ajudaredes, de modo que os países nos que estamos mutuamente interessados poidam uma vez mais ocupar o seu lugar na comunidade dos povos civilizados do mundo”.

Se o apoio de Lawrence às aspirações nacionais judias não era conhecido para os seus contemporâneos, talvez sim que era intuído. A começos de 1920, mentres Lawrence preparava as suas memórias de guerra durante a Revolta Árabe para a sua publiucação, escreveu ao autor Rudyard Kipling para perguntar-lhe se estaria disposto a lêr as provas do seu livro “Os sete pilares da sabiduria”. Kipling contestou que estaria encantado de ver as provas, mas que, se a resultas disso deducia que Lawrence era “pro-Yid” [sic] enviaria-lhe de volta as provas sem tocar.

Kipling estava angustiado pelo pensamento de que Lawrence puidesse ser pro-judeu. E, sem dúvida, a visão de Lawrence da evolução potencial do Fogar Nacional Judeu no Mandato Britânico de Palestina não era para nada hostil das aspirações judias. Num artigo intitulado “O Leste cambiante”, publicado na influínte revista “Round Table” em 1920, Lawrence escreveu sobre o “experimento judeu” em Palestina que era um “esforço consciente, por parte do mais pequeno povo de Europa, de afrontar o vento dos tempos, e regressar uma vez mais ao Oriente donde vinham”.

Lawrence sinalava sobre os novos imigrantes judeus: “Os colonos levarão com eles à terra que ocuparam durante alguns séculos antes da Era Cristã o conhecimento e a técnica de Europa. Propõem-se assentar-se entre a população árabe-falante do país que lá existe, uma gente de orige semelhante, mas diferente condição social. Agardam ajustar o seu modo de vida ao clima de Palestina, e através do exercício das suas capazidades e do seu capital levá-la a ser tão elevadamente organizada como um Estado europeu”.

Tal e como Lawrence o concebia no seu artigo em “Round Table”, este assentamento levaria-se a cabo dum modo que seria beneficioso para os árabes. “O éxito do seu programa”, escrevia dos sionistas, “vai supôr inevitavelmente o crescimento da actual população árabe no seu próprio nível material, só um pouco depois que eles em quanto a tempo, e as conseqüências poderiam ser da máxima importância para o futuro do mundo árabe. Poderia supôr uma fonte de abastecimento técnico que os figesse independentes da industrializada Europa, e nesse caso a confederação poderia chegar a converter-se num formidável elemento de poder mundial”.

Semelhava a Lawrence –ao igual que a Winston Churchill quando discutiu a questão da eventual soberania judia com os membros da Comissão Peel em 1937, pouco depois da morte de Lawrence- que levaria muito tempo antes de que se formasse uma maioria judia. Tal contingência, escrevera Lawrence no seu texto da “Round Table”, “não sucederá na primeira nem sequer na segunda geração, senão que apenas deverá ser tida em consideração de fraquear as bases do império na Ásia occidental”. Estas, a muito longo praço, “podem permanecer ou cair em função do esforço sionista”.


Quando Churchill passou ser secretário colonial em Janeiro de 1921, propus que Lawrence fosse o seu conselheiro de assuntos árabes. Nos começos do seu cometido, Lawrence encabeçou as conversas com Feisal sobre a promesa da Declaração Balfour da Grande Bretanha dum Fogar Nacional Judeu em Palestina. Informando destas conversas a Churchill numa carta datada o 17 de Janeiro de 1921, Lawrence chegava a afirmar ao novo secretário colonial –responsável de perfilar os termos do Mandato Palestiniano- que a câmbio da soberania árabe em Bagdad, Amman e Damasco, Feisal “aceitava renunciar a todas as exigências do seu pai sobre Palestina”.

Estas novas foram bemvindas por Churchill, mas havia um problema. Dado que os franceses já estavam instalados em Damasco, e não desejavam ceder o sítio a Feisal ou qualquer outro dirigente árabe, Churchill propujo dar a Feisal, em vez do trono de Síria, o trono de Irak, e ao mesmo tempo dar ao irmão de Feisal, Abdula, o trono de Transjordânia, a parte do Mandato Britânico na Palestina que ficada ao leste do rio Jordão. Instalando um dirigente árabe em Transjordânia permitiria utilizar Palestina Occidental –a área comprendida entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão, e que actualmente é o que comprende Israel e o West Bank- para ubicar o Fogar Nacional Judeu sob controlo britânico, onde os judeus, em palavras de Churchill, “viviriam por direito, e sem sofrimentos”.

Informado por Lawrence o 17 de Marçó de 1921 na Conferência do Cairo, Churchill explicou aos oficiais lá reunidos que a presença dum dirigente árabe sob controlo britânico ao leste do Jordão permitiria à Grande Bretanha evitar agitações ánti-sionistas procedentes da parte árabe do rio. Em apoio deste ponto de vista, o próprio Lawrence dixo ante a Conferência, como recolhem os memorándums secretos: “Ele [Churchill] acredita que em quatro ou cinco anos, baixo a influência duma política justa” a oposição árabe ao sionismo “terá diminuído, se não desaparecido por completo”.

Lawrence continuou explicando à Conferência que “seria preferível utilizar Transjordânia como válvula de seguridade, promovendo um dirigente sobre o que poidamos exercer pressão, para conter o ánti-sionismo”. O dirigente “ideal” seria “uma pessoa que não for demassiado poderosa, e que não seja residente de Transjordânia, mas que responda ante o Governo da sua Majestade do seu cometido”. O melhor dirigente para esse posto, acreditava Lawrence, seria o Emir Abdula, o irmão de Feisal.

A presença de Lawrence de Arábia na Conferência do Cairo foi de proveito inestimável para Churchill no seu desejo de ajudar a estabelecer um Fogar Nacional Judeu na Palestina. A amizade de Lawrence com os dirigentes árabes, com quem combateram durante a Revolta Árabe, e o conhecimento das suas debilidades, assim como das suas fortaleças, era semelhante à sua comprensão das aspirações sionistas. Em Novembro de 1918, no primeiro aniversário da Declaração Balfour, Lawrence dissera a um jornal britânico judeu: “Falando totalmente como um não-judeu, vejo nos judeus os importadores naturais da léveda occidental tão necessária para o Oriente Próximo”.

O 27 de Março de 1921, dez dias depois das propostas de Lawrence no Cairo, Churchill enviou-no de Jerusalém a Transjordânia para explicar a Abdula que a sua autoridade remataria na beira leste do Rio Jordão; que os judeus se estabeleceriam nas terras entre o Mediterrâneo e o Jordão (“Palestina Occidental”); e que ele, Abdula, deveria sofocar toda actividade ánti-sionista e toda agitação entre os seus seguidores.

Ao dia seguinte, em Jerusalém, Lawrence, Churchill e Abdula foram fotografados na Casa do Governo Britânico: Churchill coberto contra o frio, Lawrence com uma chaqueta escura e garavata, Abdula em uniforme militar com pano árabe. No seu encontro aquele dia, Abdula aceitou limitar a sua área de controlo a Transjordânia e reprimir qualquer acção contra o Fogar Nacional Judeu previsto no Mandato Palestiniano occidental do Jordão.

Lawrence ajudara, portanto, a que a construcção do Fogar Nacional Judeu puidesse continuar. Também era consciente do potencial daquele fogar nacional: doze anos antes da Conferência do Cairo, mentres viajava através da Galilea arredor do Tiberíades, reflexionou sobre os dias gloriosos da região na época romana, e sobre os assentamentos agrícolas judeus que vira na sua viagem. Escrevendo a casa o 2 de Agosto ded 1919, explicava: “Galilea foi a província mais romanizada de Palestina. O país estava bem povoado e regado de água artificialmente. Palestina foi um decente país daquela e fazilmente pode volver a sê-lo. Quanto antes cheguem os judeus, melhor: as suas colônias são brilhantes pontos no deserto”.

O resto é bem conhecido. As “brilhantes pontos no deserto” evoluíram num próspero Estado baseado na capazitação e o capital que Lawrence vislumbrara décadas antes. É dificil saber como teria respondido ante a crescente intransigência do mundo árabe ante a presença judia no Mandato Britânico, abandoados aos seus violentos intentos de destruir o Estado Judeu aínda em cernes –o mesmo Estado que ele acreditava promesa de prosperidade para os árabes da região. T. E. Lawrence morreu em Maio de 1935 a causa das fatais feridas sofridas num accidente de motocicleta perto da sua casa de Dorset, à curta idade de 47 anos. Os logros da sua curta vida têm-lhe assegurado um lugar no panteão da história árabe moderna. Talvez seja a hora de que a história judia contemporânea lhe renda tributo também.



MARTIN GILBERT


Sir Martin Gilbert é o biógrafo oficial de Winston Churchill. Publicou recentemente “Churchill e os judeus: a amizade de toda uma vida” (Ed. Henry Holt, 2007) assim como “Israel: Uma história” (Ed. McNally & Loftin, 2008).

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