02/01/10

UMA TRISTE E DESHONROSA DÉCADA



Tras regressar o martes do Cairo, o Primeiro Ministro Binyamin Netanyahu proclamou: “É hora de avanzar no processo de paz”.

A mais benévola interpretação da proclama de Netanyahu é que tratava de comportar-se como um político ao uso. Foi uma declaração triste e deshonrosa como colofão ao que tem sido, nas imortais palavras de W. H. Auden, “uma triste e deshonrosa década”. Qualquer pessoa com olhos no rosto sabe que não existe possibilidade de fazer a paz com os palestinianos. Antetudo, porque o que a imensa maioria dos israelis está disposta a dar é muito menos do que os palestinianos estariam dispostos a receber.

Mas, para além disso, Gaza está sob controlo de Hamas, e Hamas está controlada por Iran. Pela sua banda, Fatah não está em condições de fazer a paz –inclusso no caso de que os seus dirigentes assim o desejassem. Mahmoud Abbas e os seus lugartenentes sabem que igual que Hamas ganhou as eleições de 2006 em Judea, Samaria e Gaza, volverá ganhar as eleições em quanto se convoquem. Para manter sequer seja uma mínima legitimidade entre os seus, os dirigentes de Fatah não têm outra opção que não passe por adoptar o rechazo de Hamas à coexistência pacífica com o Estado judeu.

A todas luzes este não é o momento de “avançar no processo de paz”.

Em não menor medida do que nos revela sobre Netanyahu, a sua declaração é notável pelo que nos revela sobre Israel. A nossa tozuda insistência em enfangar-nos em “processos de paz” demonstra o pouco que temos avançado durante a última década.

Em 1999, Netanyahu foi expulsado do poder por um eleitorado convencido de que estava malgastando uma oportunidade histórica de lograr a paz entre Israel e os seus vizinhos. Uma maioria dos israelis acreditava que a política de asinar tratados a destra e sinistra de Netanyahu exigindo que os palestinianos respeitassem os compromissos com Israel, e o manter a zona de seguridade das IDF no sul do Líbano estavam socavando toda esperança de paz.


O seu sucessor, Ehud Barak, prometeu retirar as tropas do Líbano e selar uma paz definitiva com os palestinianos e Síria em menos de um ano. Tras ganhar as eleições, Barak fixo a famosa promesa ante uma enfervorecida multidão na Praza Rabin: “O amanhecer dum novo dia tem chegado”.

Barak não perdeu tempo em cumprir as suas promesas de campanha. Retirou as IDF do sul do Líbano em Maio de 2000.

Iniciou conversas com Síria em Dezembro de 1999. Durante quatro meses suplicou ao ditador sírio Hafez Assad que aceitasse os Altos do Golan, rematando só tal vergonhento espectáculo quando Assad o desairou duramente em Março do 2000.

E em Julho desse mesmo ano, em Camp David, Barak ofereceu a Yasser Arafat Gaza, o 90% de Judea e Samaria, e a metade de Jerusalém a câmbio da “paz”. Tras o rechazo de Arafat, Barak insistiu em Taba (Setembro do 2000) acrescentando à oferta um 5% mais de Judea e Samaria, o Monte do Templo e territórios extra no Negev; tudo para ser rechaçado outra volta. Barak fez essas ofertas mentres qualquer resquício de apaciguamento estalava ante os seus olhos. Hezbolá celebrava a retirada do Líbano como uma vitória estratégica. Longe de desaparecer, como Barak e o seu seqüaz Yossi Beilin prometeram que se passaria, Hezbolá tomou o controlo do sul do Líbano, utilizando a zona como lanzadeira para a sua eventual conquista do Governo libanês. Para além do qual, e com as suas forzas de combate despregadas na fronteira, Hezbolá reforçou as suas tropas com ajuda iraniana, preparando-se para a seguinte etapa da guerra.

Ded modo semelhante, as desesperadas súplicas de Barak a Assad não figeram senão fortalecer a image do ditador ante o mundo árabe, em detrimento de Egipto e Jordânia.

Na medida em que precisava apoios, o reforzamento de Hezbolá, Síria e Iran fixo que o rechazo da paz por parte de Arafat fosse para ele ventajoso. Animado pelo auge destes, Arafat desviou miles de milhões de dólares de ajuda occidental para projectos de desenvolvimento, a pertrechar o seu exército terrorista. Em vez de prerparar à sua gente para a paz, entrenou-na para a guerra.

Arafat respondeu à mendicidade de Barak em Camp David e Taba lançando a maior ofensiva terrorista que Israel lembrava desde os anos cinqüenta. A orgiástica celebração palestiniana do assassinato em massa de israelis foi o golpe final ao mandato de Barak e, semelhava naquele momento, que a toda continuidade nas políticas de apaciguamento.

Ano e meio depois de que chegasse ao poder, a cidadania apartou a Barak do seu posto. O dirigente do Likud, Ariel Sharon- que apenas uma década antes era considerado um cadavre político- foi levado ao poder num espectacular corrimento eleitoral. Na medida em que o voto popular foi pro-Sharon, mais que ánti-Barak, agardava-se que Sharon marcaria o fim das políticas de apaciguamento e derrotaria a Arafat e o estado de vterror que este implantara em Gaza, Judea e Samaria.

Mas não sucedeu assim.


Mais que abandoar as políticas de Barak, Sharon sumou-se a elas. Formiou um Governo de unidade com os laboristas e negou-se a combater. Não moveu um dedo quando 22 adolescentes foram massacrados à saída do Delfinarium night-club em Junho de 2001. Não moveu um dedo tras os ataques do 11-S de 2001 e as celebrações dos palestinianos da carnezaria em New York e Washington.

Sharon não ordeou lutar às IDF até que a matança de Março de 2002, que culminou na massacre de Seder no Park Hotel de Netanya, obrigou-no a fazê-lo. De não ter ordeado às IDF desmantelar a infraestrutura terrorista existente naquele momento em Judea e Samaria, teria sido apartado da carreira pelo liderádego do Likud programada para Novembro daquele mesmo ano.

A Operação Escudo Defensivo foi um exemplo de livro do que se passa quando mesclas políticos incapazes com uma sociedade forte. Duma banda, durante Escudo Defensivo as IDF tomaram o controlo da maior parte das cidades e vilas de Judea e Samaria permitindo a Israel desmantelar a rede terrorista palestiniana permanecendo empraçada no terreno nos anos que seguiram.

Doutra banda, Sharon negou-se a permitir que as IDF emprendessem uma acção paralela em Gaza, apesar das reiteradas petições em tal sentido do exército e dos residentes no sul do país. E aínda mais importante, Sharon impediu que as IDF desmantelaram a Autoridade Palestiniana, negando-se a reconhecer, nem sequer, que se tratasse dum Governo inimigo. Sharon mantinha que a yihad palestinia começava e rematava em Arafat, absolvendo a todos os seus adláteres –que daquela e aínda hoje estavam tanto ou mais implicados no agir terrorista- de toda responsabilidade.

Com este proceder, Sharon dava a entender que não ía abandoar a política de apaciguamento. É mais, deixava claro que a sua intenção era retomar o apaciguamento como estrategiua nacional tão cedo como for politicamente possível.


A maioria dos israelis interpretaram a actitude de Sharon, neste o seu primeiro mandato, como o prezo que tinha que pagar pela sua coaligação de Governo com os laboristas. Assim que em 2003, quando Sharon, o Likud e a direita obtiveram um claro mandato popular para dirigir o país sem necessidade de apoiar-se na esquerda, a expectativa era que por fim deixaria de jogar a baza dum perdedor. Que por fim lutaria para ganhar.

Em vez disso, Sharon cuspiu acima do seu partido, dos seus sócios de coaligação e dos seus votantes adoptando como sua a política da esquerda que ele próprio vituperara na campanha eleitoral.

Para implementar essa política, Sharon desmantelou o seu Governo e o seu partido formando uma coaligação com a mesma esquerda à que o voto popular volvera abrumadoramente a espalda. Os grandes eventos políticos da passada década: a retirada de Gaza, a construcção do balado de seguridade, a aceitação do plano de paz desenhado na Folha de Ruta, a Conferência de Annapolis, a Operação Escudo Defensivo, a Segunda Guerra do Líbano, e a Operação Liderádego Sólido, todos eles giraram arredor dum leit motiv central. Ignorar as lições do fracasso da política de apaciguamento do ano 2000.

Mentres que o éxito estratégico da Operação Escudo Defensivo foi devido à decisão israeli de manter o controlo sobre o território conquistado pelas IDF no combate, emprendendo a luta contra Hamas e Hezbolá, o sucessor de Sharon, Ehud Olmert, ignorou tais logros e preferiu imitar só os aspectos errôneos daquele operativo.

Seguindo a política de apaciguamento do seu Governo, Olmert negou-se a ordear às IDF que ocupassem o sul do Líbano ou Gaza. Ao igual que Sharon tras Escudo Defensivo, Olmert anunciou desde o primeiro momento que não estava interessado em derrotar aos inimigos de Israel. Limitou os objectivos da campanha a “dar-lhes uma lição”. E, por suposto, dado que não tinha interesse na vitória para Israel, Olmert permitiu que Hamas e Hezbolá alardeassem de ter logrado eles a vitória.

Optando por não derrotar a Hamas e Hezbolá, Olmert mandou uma mensagem clara de que, como Sharon antes de ele, o seu objectivo estratégico final era manter a viabilidade política do “apaciguamento” como estrategia nacional. Combateu para proteger o apaciguamento, não a Israel.



Conforme avançamos face a segunda década deste século, devemos analisar como foi possível que a primeira fosse tão malgastada. Como é possível que em 2010 Israel siga optando por políticas que têm fracassado violenta e continuadamente ao longo de tantos anos. Por que, em 2010, seguimos ignorando as lições do 2000 e tudo o acaecido desde então?

Existem dois motivos principais: os mass media israelis e Sharon. Ao longo dos anos noventa, os mass media israelis –imprensa, radio e TV-foram os principais propagandistas do apaciguamento. Quando o apaciguamento fracassou no 2000, os mass media israelis enrocaram-se: negaram-se a admitir que se tinham equivocado.

Frases enganosas como “ciclo de violência” foram introduzidas na nossa linguagem cotidiana. A ausência dum muro de seguridade –em vez da presença duma sociedade inimiga nos arrabaldos dos centros de população israeli- foi identificada como causa do terrorismo que tem custado a vida a mais de um milheiro de israelis. Os propagandistas e terroristas palestinianos, como o dirigente de Fatah, Marwan Barghouti, foram tratados como se fossem políticos legitimados. Os vínculos palestinianos com Iran, Síria, Irak e a yihad global nunca eram mencionados nem comentados.

Ao mesmo tempo, os opositores do apaciguamento –aqueles que advertiram dos perigos do Processo de Oslo e que apostaram por não nos retirar do Líbano, os Altos do Golan e Gaza- eram vilipendiados, marginados e demonizados.

Essa situação continua hoje em dia. Os mesmos mass media que provocaram estas catástrofes ridiculizam aos ministros do Likud e os membros da Knesset que advirtem contra esta política baseada no engano, mentres ensalzam a Netanyahu que –acompanhado por Barak- tem abrazado entusiastamente os seus cantos de sireia duma paz baseada no apaciguamento.

E depois está Sharon. O homem que erigiu os assentamentos, que expulsou à OLP do Líbano, que se opus a Oslo, Camp David e a retirada do Líbano; o homem que se opus ao balado de seguridade e jurou que sempre permaneceríamos em Gush Katif. Como dirigente de Israel durante a maior parte da passada década, mais que nenhum outro, Sharon é responsável pela permanente adesão de Israel aos deshonestos, desacreditados e deshonrosos ditados do apaciguamento.

Nunca saberemos se devido à sua insinuada corrupção, o seu debilitamento físico, o seu temor ao Departamento de Estado, ou o seu ardente desejo de ser aceitado pela esquerda, Sharon traicionou aos seus votantes e o seu partido e socavou a capazidade de Israel de afastar-se do fracasso.

A “triste e deshonrosa década” à que aludia Auden foi a dos anos trinta. A obsessão occidental com o apaciguamento levou ao mundo pela senda do cataclismo da 2ª Guerra Mundial.

Conforme Israel encara a nova década, devemos redoblar os nossos esforços por evitar que se repiuta aquele cataclismo. De modo inquedante, o chamamento de Netanyahu a seguir o fraudulento processo de paz amosa que estamos abocados a repeti-lo.


CAROLINE C. GLICK

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