12/02/10

DE EUROPA A EURÁBIA

As características da actual judeofóbia em Europa são muito diferentes dos anteriores tipos de ánti-semitismo. Se a tivesse que definir sem medo a abusar das palavras, denominaria-a doutrina de sustituição político-teológica euroárabe de carácter genocida, cuja finalidade é substituir o Estado de israel por Palestina. Certamente, Europa nunca tem deixado de redimensionar Israel dentro das suas “seguras e reconhecidas” fronteiras –como se as linhas do armistício de 1949 fossm seguras!; e como se a Comunidade Europeia não tivesse financiado e apoiado a Arafat e a OLP e não os tivesse legitimado no cenário internacional desde 1974. A sua retensão era a paz –a paz com Arafat, quer dizer, sem Israel. É Europa quem tem interenacionalizado, justificado e santificado a “causa palestiniana” –quer dizer, o vilipêndio de Israel. Noutras palavras, a Comunidade Europeia utilizou uma dupla linguagem orweliana reminiscente da consigna de Auschwitz: “O trabalho fazer-vos-á livres”. De facto, o propósito da política árabe da Comunidade Europeia –a posterióri continuada pela União Europeia- foi deslegitimar a Israel, e neutralizar a sua auto-defesa mediante a incitação ao ódio e a difamação. Sem embargo, podemos observar certa melhora a partir das conferências internacionais consecutivas sobre ántisemitismo e a publicidade dada –especialmente nos EEUU- ao seu resurgimento na Europa. Contudo, deveríamos evitar o optimismo excessivo pois este fenômeno está estreiutamente unido às conti ngências estratégicas, políticas e económicas da política árabe e muçulmã europeia; ao câmbio no patrão demográfico de Europa devido à imigração muçulmã; e à desintegração da identidade europeia. Tal e como o vemos actualmente, Europa está na procura desesperada do modo de seguir financiando aos palestinianos, aos que sempre têm alentado, a pesar do respaldo destes a Hamas.

Embora existam, por suposto, ántisemitas, a judeofóbia actual não é um fenômeno de pessoas e grupos marginais. Mais bem, trata-se duma estratégia político-cultural que abarca todos os países da UE. Está integrada na sua ideologia, nas suas instituições, redes e engranagens, e tem reflexo aos mais altos níveis de toma de decisões e implementação. Esta nova judeofóbia não vai dirigida aos judeus indiviualizados –uma população que a partir da Shoá tem-se convertido em marginal e insignificante a nível demográfico e político. Exprime-se através dum implacável e desdenhoso ódio face o Estado de Israel, pelo que representa e defende, e pela glorificação de todo o “palestiniano”, que é uma forma ideológica de eliminação do judeu, como nos velhos dias do Nazismo. Esta actitude é anônima, cínica, secreta e falaz. Noutras palavras, não exprime um razismo ánti-judeu, senão que exalta a palestinidade e a sua ideologia yihadista. Não tem sentido gastar o dinheiro e as energias em tratar de demonstrar o direito de Israel a existir, ou em pretender que esta política nasce da ignorância, dado que se trata dum programa muito friamente calculado até o último detalhe.

A estratégia ánti-israeli de Europa, emprendida nos anos setenta não vai variar; continuará até a sua conclusão –a destrucção da própria Europa. Aí, finalmente, reside a paradoxa e a hecatombe. Esta nova judeofóbia é, de facto, inseparável da sempiterna política europeia de fusão com o mundo árabe, o que inclui a massiva imigração procedente dos países muçulmãos, com os câmbios demográficos, sociológicos, políticos e religiosos que isso conleva. Esses câmbios não são o resultado do azar, senão uma estrategia planificada e tendenciosa cujo rasto pode ser seguido nos textos das inumeráveis conferências euro-árabes. Eu denomino esta transformação de Europa como “Eurábia”.

Eurábia não é Europa, é o seu inimigo. Não representa a maioria dos europeus nem dos seus políticos. Quando falo de Eurábia refiro-me a uma ideologia, a uma estratégika, uma política e uma cultura cuja coluna vertebral e modus operandi estám exemplificados pela Anna Lindh Foundation de Alexandria, vinculada ao Consulado Sueco. Nas origens desta visão nos anos sessenta, achamos a Charles de Gaulle e Haj Amin al-Husseini, antigo Mufti de Jerusalém, a quem De Gaulle salvara nos juízos de Nuremberg de 1946. Implementada tras a Guerra do Yom Kippur, esta visão promove uma aliança entre a Comunidade Europeia e o mundo árabe –operativa a todos os níveis da Comunidade Europeia, regional e internacionalmente, e vinculada com a Política Exterior e de Seguridade Comum Europeia. O seu objectivo: formar um pólo estratégico euro-árabe hostil a Israel, apoiando a Arafat e a OLP, e oposto aos EEUU. Sem demassiada dificuldade, França foi quem de arrastar ao resto de Europa neste programa a partir de 1973, depois do embargo petrolífero árabe.

Desenvolvidas ao longo dum período de três décadas, as ideologias e estratégias eurábicas –o que os europeus denominam “multiculturalismo”- deram pê a um sistema euro-árabe entre os Estados membros da UE, duma banda, e a Liga Árabe e os seus países, doutra. Este sistema é o que se denomina Diálogo Euro-Árabe. Abrca a totalidade das relações euroárabes no que respeita a estratégias, política, negócios, assuntos sociais, cultura, mass media, constituição de alianças, associações, sinérgias, solidariedade, connivências, projectos comuns com ajuda da Comissão Europeia e os seus numerosos instrumentos, e financiamento. Tanto esta política como a sua estrutura são absolutamente opacas para os cidadãos europeus. Não podo entrar a fundo em detalhes aquí do que supõe esta estratégia, tal como fago no meu livro “Eurábia”. Gostaria-me apenas sinalar que Eurábia é uma ideologia plasmada em numerosos Diálogos e documentos da UE. Esta ideologia –comparável em vários aspectos à seguida pelos partidos de esquerda- tem determinado a aparição dum amplo rango de instrumentos legais, económicos e financieiros encaminhados a disseminá-la e estabelecê-la nos Estados membros da União Europeia. É conhecida como Associação Mediterrânea desde a Declaração de Barcelona de 1995, que incluia a Israel tras os Acordos de Oslo. É este complexo contexto o que determina a estratégia da UE face os EEUU, Israel e os Estados Árabes, assim como as políticas domésticas de cada Estado membro da União Europeia. Apenas ubicando-nos nesta rede poderemos entender as políticas da UE e a situação actual. Foi claramente exposta num documnto denominado “A Estratégia Comum Europeia na Região Mediterrânea”, adoptado pelo Conselho Europeu o 19 de Junho de 2000 e publicado no Boletim Oficial das Comunidades Europeias do 22 de Julho de 2000.

Nos anos setenta a Comunidade Europeia e a Liga Árabe emprenderam esta associação com visões distintas mas convergentes. O ántisemitismo e o ántiamericanismo sempre existiram entre os partidos de esquerda europeus, assim como entre os movimentos comunistas, názis e fascistas, o que proporcionava à propaganda árabe um terreno favorável para o seu espalhamento. Europa acreditava que, em conseqüência, tinha assim uma solução barata para estar protegida do terrorismo árabe, para garantir o subministro energético, para dominar os mercados árabes, e incitava o yihadismo árabe contra Israel e os EEUU adoptando uma postura pro-Arafat, assim como esponsorizando aos palestinianos e pretendia manter a virulência do conflito internacionalizando a causa palestiniana até que Israel murchasse sob o peso da infâmia. A promoção da judeofóbia e o ántiamericanismo tinha um bom acomodo dentro da estratégia da aliança euro-árabe e rematou constituíndo uma das suas bases. A outra base é a guerra contra Israel, que de facto não é senão uma curtinha de fume que agacha a islamização da teologia cristã e a subversão dos valores occidentais.

Desde o seu ponto de vista, os países da Liga Árabe e da Conferência Islâmica viram nesta aliança com Europa a forma de afastar Europa dos EEUU; de dividir e debilitar o campo occidental; de destruir a Israel; de lograr paridade tecnológica com Europa; e, através da Associação Mediterrânea, de promover uma ampla zona euro-árabe no demográfico, económico, político e cultural. Neste sentido, através do multiculturalismo e a imigração, o Islám e a cultura árabe lograram ser introduzidas como força motriz da islamização no continente europeu. Europa convertiria-se, deste modo -através do efecto combinado da demografia, da pressão terrorista e do petróleo- num continente vassalo do mundo islâmico.

O multiculturalismo é, de facto, uma dimensão cruzial da aliança estratégica euro-árabe. A partir de 1975 os textos dos encontros euro-árabes e da União Europeia fazem menção aos acordos que vinculam Europa com o mundo árabe; regulando os termos da imigração árabe e islâmica a Europa; a não-integração dos imigrantes e o mantimento dos seus laços com os seus países natais; o estabelecimento de centros políticos e culturais muçulmãos nas cidades europeias; e o controlo do ensino escolar, publicações e mass media. No que atinge ao período mais recente podemos lêr o informe da Comissão Europeia de cultura, ciência e educação apresetado à Assembleia Parlamentária Europeia por Luis Maria de Puig (do Grupo Socialista espanhol) em Novembro de 2002.

É no contexto do multiculturalismo que devemos situar a yihad cultural com o seu carácter judeofóbico, ántiamericano e ánti-occidental. O multiculturalismo, portanto, converte-se no instrumento da subversão do pensamento occidental, tratando de impôr componhentes do pensamento histórico e teológico islâmico tais como, por exemplo, a negação clássica da yihad –interpretando-a não tanto como uma guerra ofensiva, senão defensiva-, a negação da dhimitude, ou a justificação do terrorismo islâmico, fundamentando-a numa percepção vitimizante dos muçulmãos, que seriam as eternas v ítimas do Occidente Cristão e, hoje em dia, de Israel, unidos deste modo numa visão essencialista do Mal.

Peemitide-me avondar nos temas desta yihad cultural do multiculturalismo. Mediante o mito de Al-Andalus, o Islám trata de demonstrar a sua legitimidade histórica, cultural e demográfica respeito Europa. Vários dirigentes europeus têm afirmado que Europa é o fogar do Islám e que constitui a raíz da cultura europeia. Portanto, está legitimado para impôr-se, invocando o multiculturalismo no sistema educativo –como sinalava o Informe Obin no caso de França (2004)- e nas esferas legal e cultural europeias, através da introducção dos princípios da Sharia, assim como dos costumes islâmicos e a sua ética política, sob o pretexto do multiculturalismo.

Para os dirigentes muçulmãos, o multiculturalismo europeu foi requisito fundamental nos acordos euro-árabes de imigração, pois permitia aos imigrantes muçulmãos não ter que se integrar e estar protegidos “das aberrações, a moral e o pensamento dos não-muçulmães” –como são denominados por Mohammed al-Tohami na segunda Conferência Islâmica, celebrada em Lahore em Fevereiro de 1974. O multiculturalismo promove a coexistência de comunidades paralelas que nunca se integrarão. O multiculturalismo e o nacionalismo são conceitos opostos. O recente combate contra os nacionalismos europeus permitiu que milhões de imigrantes muçulmãos importassem a sua cultura a Europa e estabelecer-se em pê de igualdade, utilizando basicamente dois argumentos: o mito de Al-Andalus e a orige islâmica da cultura europeia.

No que respeita a Israel, o propósito da yihad cultural emprendida pelos acadêmicos occidentais é substituir Israel por Palestina a nível cultural e teológico. A tal fim desenvolvem-se uma série de temas: a inexistência da tradição judeu-cristã, a islamização da teologia cristã através de “Jesus o muçulmão”, o retorno a uma teologia cristã onde Palestina substitui a Israel, a cruzifixão de Palestina por um Estado de Israel nascido do sangue e o pecado, a transferência do legado histórico judeu aos palestinianos, e a nazificação de Israel.

Estes temas não são fruto da ocorrência delirante e espontânea duns fanáticos ántisemitas. São impoartidos, por exemplo, no Sabeel Centre e outras entidades disseminadas ao longo de Europa mediante canles vinculados ao programa euro-árabe, e muitas ONG’s subvencionadas pela UE. Formam parte duma estratégia e uma política concertada, cuja financiação e redes –que se extendem para além da Comissão Europeia- deveria ser exposta e denunciada quanto antes. Foi por esta razão que Israel –e não o terrorismo islâmico- foi incriminada como o maior perigo para a paz mundial numa enquisa promovida pela Comissão Europeia entre os seus Estados membros no ano 2003, para contrarrestar a participação de Bush na guerra contra o terrorismo islâmico.

Para concluir, direi que o novo ántisemitismo situa-se num nível geoestratégico na guerra euro-árabe cotra Israel. Os seus leit-motivs estám tomados da tradicional judeofóbia europeia, mas tamizados no contexto e ideologia da Yihad islâmica. Esse é o motivo pelo qual a nova Judeofóbia implica a destrucção de Occidente, as suas instituições, cultura e espírito.



BAT YE’OR

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