11/02/10

PALAVRAS, PALAVRAS, PALAVRAS


Poderiamos ter a tentação de esquecer os recentes intercâmbios dialécticos entre Ehud Barak, Walid Moallem eAvigdor Lieberman como pouco mais que as “palavras, palavras, palavras” do Hamlet, que tivessem pouco conteúdo significativo. Sem embargo, são indicativos dos diferentes pontos de vista que sustentam os Ministros de Defesa e AAEE israelis e o Ministro de AAEE sírio. E quais são esses pontos de vista?

Comezemos com o nosso Ministro de Defesa. Barak afirma que se Israel não negocia um acordo de paz com Síria –acordo que incluiria a devolução dos Altos do Golan a controlo sírio- Israel arrisca-se a uma guerra com Síria; e que tras essa guerra, estaríamos novamente na actual situação, na necessidade de negociar um tratado de paz com eles e devolver-lhes os Altos do Golan.

Seguro? Significa isso, na sua opinião, que a capazidade disuasória de Israel respeito a Síria, que tem existido desde a Guerra do Yom Kippur e se viu reforçada durante a 1ª Guerra do Líbano, tem decaído com os anos e, de facto, já não existe? Significa que tras uma guerra iniciada por Síria, a situação de Síria seria essencialmente a mesma que antes de atacar a Israel?, que continuaria sendo uma ameaça até o ponto de que Israel deveria devolver os Altos do Golan? Bem, isso seriam boas notícias para o Presidente sírio Bashar Assad, e se as tomasse ele próprio em sério poderiam levâ-lo a emprender movimentos aventurados positivos para nós.

O máu é que Assad não é tão parvo. Ele sabe que uma guera com Israel provavelmente perjudicaria muito gravemente a Síria e o deixaria com poucas possibilidades de poder seguir chantajeando a Israel; isto é, sempre e quando não seja desmedida aconfiança que tenha depositada nos milheiros de mísseis balísticos que leva anos acumulando. Moallem sugeriu que os utilizariam. “Israel debe saber que uma guerra chegaria até as suas cidades”, dixo. De modo que por temor a que as suas cidades fossem destruídas pelos mísseis sírios, Israel deveria optar por entregar os Altos do Golan para evitar essa guerra. É esse o balanço de terror que existe na actualidade entre Israel e Síria?

Israel não necessitava as advertências de Moallem para estar ao tanto dos milheiros de mísseis do arsenal sírio acumulados nos últimos anos. Só nos fica agardar que os preparativos do Comando Central das IDF –distribuíndo máscaras ánti-gas e dispondo refúgios para a população- não sejam a única ou a principal resposta que Israel tenha preparada contra tamanhe ameaça. Israel tem contado com tempo suficiente para desenvolver os sistemas bélicos e uma adequada estrategia como para que aos sírios nem se lhes passe pela imaginação usar esses mísseis contra as cidades israelis. Necessitam realmente escutar as manifestações de Lieberman dizendo que o actual regime sírio não sobreviviria a uma guerra com Israel para pôr certa sobriedade nas coisas que se lhes passam pela cabeça?

Só podemos concluir que a avalancha de palavras dos dirigentes de Israel e Síria a semana passada íam realmente dirigidas ao público israeli. O Ministro de Defesa está utilizando tácticas de intimidação para que os israelis se vaiam preparando para abandoar os Altos do Golan. Melhor que nos arriscar a uma guerra inevitável que conduziria a um ponto morto, Israel deveria entregar agora os Altos, vem-nos dizer. Moallem faz-se eco das palavras de Barak ameaçando com a destrucção das cidades de Israel se uma guerra tivesse lugar. E Lieberman afirma –e é provavelmente certo- que se Síria emprendesse uma guerra com Israel, sob o impacto dos golpes israelis, o regime alawita do dirigente Assad provavelmente não sobreviviria ao conflito. Nisso consiste a disuasão, pelo que os israelis não têm de que se preocupar, diz-nos Lieberman, para além do afirmado pelo Ministro de Defesa.

Uma estimação sereia da situação existente entre Síria e Israel indica-nos que os sírios seguem estando disuadidos de atacar a Israel pela percepção da nossa capazidade militar, e a reacção que agardariam a uma agressão da sua banda. Ao longo dos anos têm acumulado um amplo arsenal de mísseis balísticos, agardando, à sua vez, disuadir assim  Israel de emprender acções militares contra eles. Esta disuasão síria tem resultado efectiva até o ponto de evitar que Israel lhes pedisse contas pelo seu apoio a Hezbolá no Líbano e a Hamas em Gaza. Mas só pelo de agora.


MOSHÉ ARENS

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