26/01/10

AS ORIGENS NÁZIS DA CORTE SUPREMA ISRAELI


Os sionistas foram originariamente uns tipos admiráveis, não muito diferentes dos boer sulafricanos. Economicamente esquerdistas, eram genuinamente conservadores nos assuntos políticos. Os kibbutzniks tinham propriedades comunais, e o código ético da Histadrut proibia qualquer excesso –como, por exemplo, ter pinturas em propriedade-, mas os trabalhadores judeus e os camponeses sabiam que a sua missão era conquistar o país e arrebatar-lho aos árabes, e tinham poucos escrúpulos à hora de tomar represálias contra estes. Antes da década dos anos trinta, os judeus tinham bem claro quem era o seu inimigo, e esse inimigo não era outro que os árabes.

A situação começou cambiar com a chegada dos názis ao poder. Presumivelmente, teria cambiado de todas formas, em tanto que os judeus maduraram e se converteram em gente moderada. Mas, em todo caso, o câmbio chegou com os názis.

Nas repressões contra os judeus na Alemanha, os sionistas viram a grande oportunidade de implementar a sua emigração a Palestina. De grande importância para Agência Judia, os novos imigrantes eram geralmente acaudalados –o que também era visto com bons olhos pelos invasores britânicos. Os judeus alemães, de modo habitual, não tinham problema para reunir as sumas requeridas para obter os visados. Os judeus assimilados que preferiam permanecer na Diáspora queixavam-se de traição. O Rabino Stephen Wise tratou de organizar um boicote mundial à Alemanha názi, mas os sionistas frustraram os seus planos: acreditavam que tinham que aproveitar a oportunidade de levar quantos mais judeus melhor à Terra de Israel –em vez de protegé-los no Exílio. O argumento era cínico, embora fosse correcto. Os sionistas também argumentavam que o boicote de Wise poderia pôr em perigo aos judeus alemães, como de certo sucedeu. Para Wise, à sua vez, o boicote também era maiormente uma questão basicamente política. Os sucessos posteriores amosaram o pouco que os judeus lhe importavam àquele rabino norteamericano; puxo o grito no céu contra Hillel Kook e negou-se a fazer qualquer tipo de pressão sobre a Administração dos EEUU para que bombardeasse os campos da morte. Com toda provabilidade, o intento de boicote de Wise foi parte do complot de Roosevelt contra Alemanha.

O Movimento Revisionista de Jabotinsky dividia-se entre o desejo de incrementar o fluxo de judeus a Palestina, e o tradicional objectivo da direita de protegé-los no Exílio. Jabotinsky, que presenciara os progromos em Ucrânia e Bielorrússia a comezos de século, não podia abandoar à sua sorte aos judeus alemães. Os názis toleraram os campos de trainamento do Beitar porque a sua finalidade era vaziar Alemanha de judeus. Finalmente, Jabotinsky renunciou nominalmente ao Beitar alemão para evitar pô-lo em perigo com as suas actividades subversivas.


Para os sionistas, o ano 1933 supus o comezo duma espécie de haavará, um intercâmbio no que Alemanha permitiu que os seus judeus partissem face Palestina a câmbio de grandes quantidades de dinheiro e possessões. Os alemães ofereceram uma solução aceitável para os sionistas: os judeus alemães que marchassem pagariam pelos bens locais com marcos alemães; os bens seriam depois exportados a Palestina, onde as empresas sionistas os venderiam para pagar pelos imigrantes que fossem chegando. Com essa solução todos ganhavam: Alemanha desembarazava-se dum grande número de judeus, e a Agência Judia obtinha um 35% de benefício nas transacções. Os próprios judeus alemães também se beneficiavam avondo –salvando as suas vidas. Contudo, apenas um 10% dos judeus alemães se trasladou a Palestina.

Já não eram como aqueles que chegaram previamente. Os imigrantes religiosos judeus não eram extraordinariamente produtivos –embora vinham arroupados por uma forte cárrega ideológica. Os imigrantes sionistas não se distinguiram pela sua religiosidade, mas sem embargo eram tremendamente produtivos. Os judeus alemães (yekkes) não eram nem uma coisa nem outra. Como se passara maioritariamente na aliya russa de comezos de século, os yekkes fogiam das suas penúrias domésticas mais que “ascender” à Terra de Israel. Aquela massa assimilada a duras penas se identificava com os judeus –e para nada com o sionismo. Muitos agardavam poder regressar a Alemanha em quanto os dirigentes názis abandoassem o poder. No esquema da haavará, os sionistas jogaram com fogo e remataram queimando-se: os imigrantes judeus procedentes da Alemanha amalgamaram-se numa poderosa forza ántisionista. Falavam alemão, desdenhavam a vulgar cultura dos judeus de Palestina, ignoravam a observância religiosa, e, como bons esnobs, veiam-se a sim próprios como europeus num exótico território de Ásia. Os judeus normais responderam-lhes adequadamente, e a sua alienação foi em aumento. Detestados e menosprezados, os judeus alemães eram os Paz Agora daqueles dias.

Carentes de ideais sionistas, os cosmopolitas yekkes converteram-se na voz mais destacada na promoção da ideia dum Estado binacional, e inclusso duma autonomia judia sob mandato britânico. Avogavam por soluções pacíficas e por acomodar-se aos desígnios dos árabes. Os judeus alemães entendiam o pacifismo como uma questão de submisão às leis. Tinham aversão à violência de massa, e um profundo sentimento de culpabilidade. Viviam sob o tremendo lastre de sentir-se “os repudiados que foram salvados”. Não podiam esquecer que os certificados de emigração que lhes foram entregados, foram denegados a outros –que, em conseqüência, morreram. Ajudando aos árabes mitigavam o seu fracasso em ajudar à judearia europeia.


Os ocupantes britânicos converteram a Agência Judia (Sohnut) num Judenrat. Os britânicos davam à Agência um número muito limitado de permisos de imigração, que esta distribuia a discreção. De facto, os britânicos obrigavam aos judeus a levar a cabo um processo de selecção, eligindo entre a vida e a morte para um número limitado dos seus compatriotas. A Agência Judia agiu amiúde cinicamente, noutras ocasiões fixo-o desesperadamente. Distribuiu os visados para Palestina entre os seus partidários socialistas e a gente jovem com rodagem no trabalho agrícola. Mas antes de que Alemanha ocupasse Polônia em 1939, a Agência passou a metade dos visados aos judeus alemães que, em número de 500.000, representavam apenas o 17% do número total de judeus que havia em Polônia. Naturalmente, a Agência Judia acreditava que os judeus alemães afrontavam um perigo mais imediato que os judeus polacos. Os yekkes, em conseqüência, viviam com a má conciência de que receberam os seus visados pela incompetência da Agência, inclusso a pesar de que não lhes correspondia nem por idade nem por qualificação profissional. Muitos judeus alemães dos chegados a Palestina careciam de ofício ou capazidade de manter um emprego produtivo. Nem queriam que lho proporcionassem, pois olhavam aos judeus palestinianos com ar de superioridade. Posteriormente, esta seria a actitude que haveria de infectar à “elite cultural” israeli.

Quando o Estado judeu ficou estabelecido, os yekkes eram a única classe com uma certa formação acadêmica. Automaticamente, coparam os postos privilegiados, os meios de comunicação, e os postos de judicatura. Inculcando os seus valores alemães nos seus discípulos. Os valores extremadamente nihilistas da comunidade judia mais assimilada até então. Se D’us teve um propósito oculto permitindo o Holocausto, só puido ser frear a assimilação, evitando que essa praga se extendesse até a Terra de Israel, ao igual que a geração do Exílio fora exterminada no deserto. Bem. Pois esse propósito fracassou, na medida em que os yekkes remataram exercendo a sua desproporcionada e esmagadora influência sobre toda a sociedade israeli.

Politicamente, o germanizado sistema judicial recebeu o seu impulso definitivo quando, trinta anos depois, o Herut-Likud alcanzou o poder. Os socialistas reconheceram que o câmbio na demografia israeli supunha o final do seu domínio: os judeus sefarditas conheciam o lado mais amargo da convivência com os árabes, e decidiram trasvasar o seu apoio aos partidos de direita. E velaqui se apresentou a grande oportunidade da Corte Suprema: se a Corte eligia aos seus próprios membros, ficaria totalmente impermeabilizada dos câmbios na opinião pública –e, de passo, dum resurgir do sionismo também. Os israelis poderiam votar por quem lhes desse a ganha, mas a fim de contas a Corte Suprema controlaria a legislação –botando abaixo determinadas leis, emendando outras na própria Knesset, condicionando a determinadas facções parlamentáriaas com a opinião da Corte Suprema, e ditando de facto autênticas leis através das suas decisões judiciais. A Corte Suprema tem chegado a assumir poderes executivos dirigindo as acções do exército, o trazado da barreira de separação, e infinidade doutras questões derivadas do seu controlo da vida política do país.

Já que não decretando o fusilamento deste cônclave de traidores, a falhida intentona do Ministro de Justiza Friedmann de que a Knesset eligisse aos juízes teria sido um mal menor.



OBADIAH SHOHER

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