24/01/10

A PEAGEM DA MORTE É ALGO NATURAL



A morte dum ser humano –seja um soldado ou uma criança- é um sucesso deplorável. Tratar de minimizar a peagem da morte no transcurso das guerras resulta futil. Os jornalistas e os activistas de salão podem permitir-se uma ilustrada neutralidade, mas os soldados estám obrigados a odiar ao seu inimigo. Nenhum soldado norteamericano pode respeitar esquizofrenicamente ao povo iraqui e odiar ao mesmo tempo às guerrilhas iraquis, ou salvar aos civis iraquis mentres aniquilam aos insurgentes iraquis. Nos momentos de perigo extremo, numa área da moralidade que vai para além da ética familiar aplicável em tempos de paz, quando os gatilhos dos fusis convertem ao comum dos homens em juízes com potestade sobre a vida e a morte, quando qualquer movimento marca a diferencia entre a morte e a supervivência, quando tudo o que os soldados têm aprendido na escola ou na igreja não serve para nada, as pessoas não se podem permitir o luxo do pensamento racional e a deliberação moral. O mundo torna-se branco e negro, e a parte branca sempre fica do lado da tua companhia ou brigada. Um corpo humano é tão insignificante para a moral comum que pouco importa se o seu rosto pertence a um civil ou a um soldado. A diferência é freqüentemente artificial, e inexistente no caso da guerra de guerrilhas. O adolescente de hoje é o terrorista de amanhã; uma mulher é a alentadora mãe dum terrorista, uma casa é apenas um armazém de armas. Nas guerras, uma população inimiga sempre é presumivelmente culpável até que se demonstre o contrário, e os soldados que irrompem em vivendas hostis amiúde não têm tempo para julgar atendo-se às normas.


As vidas humanas têm um prezo nas guerras, e não é um prezo demassiado elevado. Os bombeiros arriscam as suas vidas a câmbio duns salários não excessivos, e com freqüência devem entrar em edifícios ardendo para salvar propriedades, e não vidas precisamente.

Os EEUU têm matado muitíssimos mais civis em Afeganistão desde os anos 80 que os que presumivelmente teriam morto nos EEUU de ter-se dado um ataque patrocinado por Afeganistão. A vida, especialmente a vida dos demais, é um prezo comumente aceitado a câmbio de objectivos muito variopintos: chame-se ópio, petróleo ou democracia.

Todas as guerras, em todas as épocas, têm suposto a morte de muita gente, incluíndo os não combatentes. As guerras não são inhumanas, senão mais bem demassiado humanas. Ao longo da história, pessoas que eram decentes em tempos de paz, têm cometido as maiores atrozidades durante as guerras. Nada tem cambiado. Os soldados despojam-se das roupagens da moralidade quando se entregam ao banho de sangue das guerras.

Para salvar vidas, não comezemos guerras inecessárias. Mas uma vez que a guerra começa, não apelemos hipocritamente à peagem da morte.


OBADIAH SHOHER

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