15/01/10

JUDEA


Não há mais justificação para o nacionalismo judeu, e a existência do seu Estado, que o Judaísmo.

Quais poderiam ser as alternativas? É insustentável a sandez do “direito histórico”. Olhade apenas uma enciclopédia. Os judeus foram soberanos nesta terra, segundo a cronologia tradicional, desde a conquista de Jerusalém por David no 1034 até o 719 a.n.e., quando os assírios saquearam Israel: um total de 315 anos. A cifra pode acrescentar-se aquí e alá; tomemos a caída de Jerusalém em vez da de Israel, acrescentemos os anos da independência hasmonea, a vitória de Saúl sobre Amalek, etc. Mas o ressultado é diâfano: sob qualquer medida, a soberania judia foi muito breve. O domínio judeu prolongou-se mais, desde a era dos Juízes (os autênticos, não os da nossa Corte Suprema) no século XV a.n.e. até o século II d.n.e.. Mas aínda assim não nos diferencia muito dos séculos de domínio árabe neste território. Perguntade-vos por um momento: se os descendentes directos dos canaanitas aparecessem agora, digamos, em África e exigissem o seu direito a regressar ao território histórico, acreditades que as suas demandas seriam relevantes?

Que aquela presença judia na Terra de Israel nunca deixasse de existir e que os judeus sejam o mais antigo de entre os povos que a habitaram é irrelevante: as populações nativas ao longo de todo o planeta são aniquiladas e submetidas em maior proporção que as que chegam a exercer a soberania; fixade-vos nos índios de Norteamérica.

Para além disso, os judeus não estamos habitando agora os nossos territórios históricos. Os territórios históricos são precisamente os “territórios ocupados”. O Estado Judeu estava ali, mentres que a faixa costeira estava dominada pelos filistinos, e depois pelos gregos e os romanos. Os judeus a controlaram por escaso tempo, e maiormente foi sempre um área pagana. A nossa conexão histórica com Tel Aviv é pouco maior que a que temos com Addis Abeba, em Etiopia.

Ou considerade o argumento da “conexão histórica” judia com este território. Os árabes também têm uma conexão histórica com ele. Não todos eles, alguns são imigrantes relativamente recentes –embora quando a sua estância de apenas um século em Palestina os faga mais nativos que aos judeus russos chegados a partir de 1990. Mas qual é a conexão histórica dos judeus eslavos chegados a Palestina? Os seus ancestros nunca viveram aquí. Qual é a conexão histórica dos etíopes conversos ao Judaísmo com Palestina? Que retorzido razoamento atéu faz que tenham mais direitos a esta terra que os lugarenhos árabes? Os judeus têm conexões históricas mais fortes com Europa que com Palestina: passámos 1.900 anos da nossa história em Europa, muito mais que no Meio Leste.


O argumento de que os judeus necessitam um Estado também é inconsistente. Os chechenos necessitam um Estado. Os bascos necessitam um Estado. Alguns esquimais, talvez, acreditam que necessitam um Estado. Existem mais de 2.000 línguas escritas no mundo; detrás de cada uma há, quando menos, um grupo nacional. Apenas o 10% de eles têm Estado próprio. O número de judeus que desejam um Estado próprio é minúsculo: os Estados normalmente não se edificam para seis milhões de pessoas. Grupos étnicos muito mais grandes lutam pela sua independência sem apoio internacional.

Por que haveriam os atéus judeus de ter um Estado na ubicação actual? Os palestinianos queixam-se com justiza de que os europeus lhes fagam pagar os crimes dos cristãos contra os judeus no Holocausto. Theodore Herzl era um cínico no que respeita aos direitos religiosos judeus, deixando Jerusalém aos cristãos, e apenas tinha uma estúpida justificação para querer fundar o Estado judeu na Terra de Israel: que era ostensivelmente “uma terra sem gente”. Por suposto, a terra estava habitada desde tempo imemorial, e inclusso os desertos e pantanos formavam parte do mundo muçulmão. Alguém no seu são juízo pretenderia arrebatar as imensas extensões desabitadas de Sibéria a Rússia? Se os muçulmãos não têm direito ao deserto desabitado, que direito tem Israel ao imensamente desabitado deserto do Negev?

O argumento utilitarista de que nenhum outro sítio agás Palestina estava disponível para os judeus é falso e irrelevante. Falso, porque aos judeus se lhes ofereceu Uganda. Que, por suposto, era uma pésima opção: décadas depois, o assunto Entebe fixo da capital de Uganda um nome familiar entre os judeus. Falso, porque os judeus podedriam ter achado territórios desabitados em qualquer outra parte: adquirir um grupo de ilhas, solicitar um território autônomo na sabana australiana, construir uma comunidade fechada em Arizona, ou ocupar uma porção de terra em qualquer outro sítio. Se alguém deveria sentir compassião pelos judeus sem terra, deveriam ter sido os cristãos europeus que nos perseguiram. Os europeus têm quantidade de territórios praticamente vazios, especialmente em terrenos montanhosos, suficientes para constituir um pequeno Estado Judeu.

O argumento sobre a seguridade é cómico. Em parte alguma do mundo estám os judeus menos seguros que na delgada faixa de terra comprendida entre um mar de água e um mar de muçulmãos, rodeados de árabes por aquí e acolá, onde uma só bomba nuclear pode borrar do mapa à décima parte da nossa população.

Israel é um mal lugar para fogir do ántisemitismo. Em todo caso, Israel oferece aos ántisemitas um modo politicamente correcto de exprimir o seu ódio aos judeus: agora ódiam a Israel; odiar um Estado é algo admitido. As inevitáveis repressões israelis contra os árabes provocam uma vaga de ántisemitismo entre os esquerdistas que doutro modo seriam neutrais ou simpatizantes dos seculares judeus.


Não existe razão cultural para justificar Israel, porque não existe uma cultura israeli. Existe um arte pop americano em hebreu, sem conexão alguma com a judeidade. Israel renunciou formalmente às tradições centrais do judaísmo: o Shabat, o kashrut, as regras públicas de Pesaj e inclusso o Yom Kippur. Descartada a israeli, nem sequer há uma cultura judia. Não existe uma história comum: os judeus sefardis estiveram prolongadamente afastados do signo distintivo do Exílio asquenazi: a persecução permanente. Nada para além da religião une aos asquenazis com os judeus sefardis, polacos ou alemãos.

Israel inicialmente logrou que os judeus fossem respeitados em todo o mundo. O qual, por certo, não é um objectivo do judaísmo, pois aos judeus não lhes tem por que preocupar a opinião dos demais; contudo, procedimos contrariamente ao predominante pensamento cristão. A Israel que idolatra as concessões do processo de paz, é incapaz de rematar com o terrorismo árabe, e comporta-se com debilidade, incitando assim o ántisemitismo.

A judeidade sem religião é simples razismo. Que diriam os judeus se os WASP norteamericanos emprendessem uma campanha contra os matrimônios mixtos? Ou se os cidadãos brancos de África do Sul se amparassem na cor da pele para não casar com os negros? Que pensaríamos dos nacionalistas negros dos EEUU se pedissem aos da sua tribo que não se casassem com brancos? Todo o mundo, porém, vê bem as distinções religiosas. Para um muçulmão é correcto negar-se a desposar uma não-muçulmã, e o mesmo se passa com os católicos. É politicamente aceitável para Arábia Saudi proibir a oração não islâmica na Meca, e para o Vaticano negar a cidadania aos não católicos. Imaginade que os EEUU proclamassem uma política de preservação da raza branca, num Estado não hispânico, ou que os belgas impugessem um limite de nascimentos aos seus cidadãos muçulmãos. Embora fossem razoáveis, tais propostas seriam rechazadas. Um Estado religioso judeu pode restringir o matrimônio mixto, ilegaklizar aos árabes, e proibir os cultos religiosos alheios (e inclusso a presença estrangeira) na Terra de Israel.


A judeidade é indefendível desde pontos de vista atéus. Os ántisemitas de todo o mundo queixam-se de que o conceito judeu de “povo eligido” é razista, e protestam ante os pronunciamentos contrários aos gentis dos livros sagrados judeus. Os progres estadounidenses já têm censurado as edições escolares do “Huckleberry Finn” censurando alguns parágrafos por “razistas”, e não passará muito tempo antes de que fagam o mesmo com o Talmud e o Shulhan Aruj. Os “rabinos” progres já têm desautorizado determinadas pasagens da Bíblia por “bárbaros” e “razistas”. Os judeus seriamos incapazes de defender a nossa religião contra o discurso progre de não ser porque nos apoiamos na honesta crença de que o Judaísmo tem sido revelado por D’us na sua totalidade.

Apenas existe um só argumento atéu para justificar o controlo judeu sobre a Terra de Israel: a forza bruta. Somos o suficientemente poderosos e ambiciosos como para controlar este território. Sendo como é um bom argumento, não tem sido senão grazas à intervenção divina que um punhado de judeus poida ter resistido o pulso ciom as hordas muçulmãs.

A religião proporciona aos judeus a única justificação politicamente correcta para agir adequadamente. Todo o mundo coincide em que já tem passado a época em que os colonialistas europeus aniquilavam aos nativos norteamericanos para despejar o país no seu próprio benefício, e que agora Israel não pode agir desse modo. Todos coincidem em que os judeus não podem imitar o exemplo checo e polaco de há sessenta anos, quando expulsaram a milhões dos seus alemães tras a 2ª Guerra Mundial. Limpar a terra de inimigos jurados confunde-se com limpá-la de grupos étnicos não desejados. Os mass media internacionais pugeram o berro no céu quando Israel desprazou a 400.000 palestinianos em 1948. Resulta ingênuo acreditar que agirão doutra maneira se Israel volve fazer o mesmo. Mas aludir ao mandato religioso de limpar a terra de nativos, agás os que nos sejam leais, e anexionar toda a Terra Prometida, é uma forma mais aceitável de apresentar os factos ante a sensibilidade internacional. Poucos políticos occidentais e russos estám preparados para uma interpretação profunda da Bíblia. Maquiavelo amosara-se surprendido pela decisão de Fernando de expulsar os judeus de Espanha, presupondo que a sua justificação religiosa apenas ocultava uma artimanha, a de fazer-se com as propriedades judias. A justificação religiosa aínda pode funcionar, seja um crênte ou não.

Embora a Bíblia poderia ser fazilmente criticável –especialmente desde a ignorância- não tem sentido fazê-lo, pois supõe socavar simultaneamente os próprios valores seculares judeus. A gente não se questiona muitos conceitos directamente relacionados com as suas vidas: a política económica, a inteligência militar, ou os investimentos estatais dos seus fundos de pensões. A gente acredita cegamente em doutrinas científicas que não alcanzam a entender, como a teoria da evolução, as linhas paralelas que não se cruzam num ponto infinito, ou o Big Bang. E isso inclui também os Mandamentos.

Não tem sentido perguntar-nos se D’us nos dou os Mandamentos no Monte Sinai ou se Moisês já conhecia as Leis com anterioridade e as transcreveu a sugerência de Jetro. Aceitamos como acto de fê que D’us se revelou a centos de miles de judeus no Sinai, prometendo-nos a perpétua possessão deste território, e exigindo-nos que expulsássemos aos aborígens. Isto é algo muito mais simples que a elaborada imbecilidade dos direitos históricos. E é certa? A quem lhe importa? Que teorias políticas são certas? Lénine mentiu. Marx estava equivocado. Os princípios de Jefferson eram idealistas e nunca chegaram ser levados à prática. Platão era um monstro esquerdista que não fixo senão prefigurar uma sociedade orwelliana. Com quanta freqüência as pessoas não acreditam em falsedades que lhes resultam válidas e confortáveis: a capazitação do Governo, a honestidade dos políticos, ou os processos de paz?

As noções bíblicas são plausíveis, sensatas e –como os humanos têm demonstrado ao longo dos séculos- totalmente creíveis.


OBADIAH SHOHER

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