15/04/10

SALVADO POR OBSERVAR O SHABAT


O Rabbi Michael Schudrich, que se salvou duma morte segura há uns dias por negar-se a violar o Shabat e voar com o Presidente Lech Kaczynski, analisou os seus sentimentos em Israel National Radio. Na sua conversa com Tovia Singer, fala do legado e atrágica morte do dirigente polaco.


Tovia Singer: O passado sábado agardava-se que você estivesse no voo que se dirigia à comemoração da massacre dos polacos pelos soviéticos. Você fora convidado a acompanhar ao Presidente de Polônia, mas dado que o voo transcorria em Shabat, você não ía a bordo no momento dos trágicos factos. Quando se inteirou do accidente, que se passou pela sua mente?

Rabbi Schudrich: Conhecia muito bem ao Presidente e à sua dona, Maria, e tinha arredor doutros quinze bons amigos nesse voo. A minha primeira reacção foi de incredulidade e shock. Um pouco depois, caim na conta de que eu poderia ter estado nesse avião.

É muito duro descrever o sentimento duma pessoa que se dá conta de que podia ir num voo que accidenta. Duma banda, embargou-me uma tremenda tristeza pela perda dos meus amigos. Doutra, dá-se um sentimento de enorme descanso e gratidão. O Presidente estava obsesionado com que o acompanhasse aos lugares da massacre durante a 2ª Guerra Mundial, como parte do clero do povo de Polônia; especialmente a Katyn, onde arredor do 10% dos oficiais assassinados eram judeus. Este é um facto que tem sido lembrado e enfatizado pelos Presidentes de Polônia durante os últimos 15 anos.

A última vez que estivem com o Presidente, lembro que me insistiu para que voássemos juntos. Um dos oficiais que foram assassinados em Katyn era o Rabino Chefe das Forças Armadas polacas, o Rabbi Baruch Sternberg. Kaczynski queria localizar a sua placa na minha companhia. Dizia que era uma obriga dos polacos comemorar como os judeus combateram e morreram por Polônia.


Tovia Singer: O Presidente Kaczynski era um conservador católico. E, porém, considerava-se em déveda com a comunidade judia, à que queria reparar pelos seus sofrimentos. Qual é a força motriz da boa relação do Presidente Kaczynski com a comunidade judia?

Rabbi Schudrich: Em boa parte, a sua mãe. A sua mãe, que agora está muito enferma, sempre educou aos seus filhos na convicção de que os judeus eram parte de Polônia. Ela tinha muitíssimos amigos judeus antes e, inclusso, depois da guerra. Alguém me comentou que a avoa do Presidente Kaczynski era judia –algo muito inusual naquele tempo- e que isto teve um grande impacto sobre ele.

Mentres que, em geral, a gente acredita que estar em posições de direita dura faz que as pessoas sejam mais proclives à xenofóbia e o ánti-semitismo, no seu caso era tudo o contrário. Era um devoto de João Paulo II. O Papa polaco, nos seus 27 nos de Papado, fez mais para combater o ánti-semitismo que ninguém em 2.000 anos. Foi o primeiro Papa em dizer abertamente que o ánti-semitismo é um pecado. Parte do patriotismo de Kaczynski e do seu catolicismo foi devido à influência de João Paulo II.


Tovia Singer: Polônia, para muitos judeus, é um imenso cimitério judeu. Yitzhak Shamir referia-se aos polacos como um povo muito ánti-semita. Você próprio tem sido atacado em Polônia. Muita gente poderia dizer-lhe, “Rabbi, que faz você em Polônia, levando uma vida judia? Polônia é o passado”. Que lhes pode responder?

Rabbi Schudrich: Antes da 2ª Guerra Mundial, havia três milhões e meio de judeus em Polônia. A finais de 1944, mais do 90% desses judeus foram assassinados no Holocausto, ficando apenas uns 350.000 judeus vivos. Depois da guerra, Polônia foi ocupada decontado pelos comunistas soviéticos. Muitos judeus notaram que para sentir-se seguros dizendo “Sou judeu” o melhor seria abandoar a Polônia ocupada pelos soviéticos. Assim, muitos judeus marcharam. Mas alguns ficaram, renunciando à sua identidade judia. Mas tras a caída do Comunismo, milheiros e milheiros de polacos têm ré-descoberto as suas raízes judias.


Tovia Singer: Deve haver miles de polacos que acreditam que são católicos, mas realmente são judeus. Está você implicado na recuperação dos judeus ocultos de Polônia?

Rabbi Schudrich: Essa é precisamente a minha missão aqui. Estou aqui para brindar-lhes a oportunidade de regressar ao Povo Judeu. Estou aqui para dar-lhes a oportunidade de aprender Yiddishkeit. Havia um homem, algo maior que eu, que foi convidado a um memorial organizado pela Embaixada de Israel por uma mulher polaca que salvara a duas judias durante a guerra. Um membro da Embaixada dixo-lhe que a sua mãe fora salvada por essa mulher. Então entendeu que era judeu. Isto sucedeu há nove meses. Poucos meses depois, fixo a sua circuncisão, e agora é um orgulhoso e activo membro duma das nossas comunidades judias.

Outra mulher duns quarenta anos dixo-me que a sua avoa soia fazer umas extranhas bolachas, e depois conheceu a alguns israelis há uns anos e comprendeu que o que fazia a sua avoa era matza. Essa mulher dixo, “Quando as crianças pequenas se portavam mal, a avoa pronunciava esta extranha palabra, ‘Meshigeh’ [‘tolo’, em yiddish] –sabes o que significa? A avoa gostava-lhe jogar às cartas, e cada vez que levava uma mala baza, dizia ‘Oy vey’ –sabes o que significa? Quando comíamos carne (e nunca era de porco), não nos deixava tomar leite acto seguido”.

Portanto, sabia ela que era judia? Não sabia que era judia? O que a levou a visitar-me foi que o seu filho dixo, “Somos judeus. Quero ser judeu”. Ele acudiu à nossa Kabalat Shabat a semana passada. E agora, o seu filho de 15 anos quer acudir a um campo de verão judeu. Outros netos de judeus “ocultos” que tenho ido conhecendo estám-se incorporando de vagar à comunidade, acudindo às nossas leituras, e aprendendo o que significa ser judeus.

Estas são apenas algumas histórias. Isso é o que estou fazendo aquí.


Tovia Singer: Você tem erigido púlpitos em lugares muito atípicos, como Japão e agora Polônia. Japão salvou a miles de judeus, incluíndo a Mir Yeshiva, durante a 2ª Guerra Mundial –o que não deixa de ser extranho dadas as suas relações com Alemanha. Por que os japoneses salvaram judeus durante a 2ª Guerra Mundial?

Rabbi Schudrich: Uma possibilidade é que uma vez que chegas ao seu país, sintem-se responsáveis de ti. Outra teoria é que os japoneses acreditavam nos Protocolos dos Sábios de Sion, mas acreditavam no sentido de razoar que “se os judeus controlam o mundo, o lógico é ser bons com eles, para que assim eles sejam bons conosco”. Uma terceira ideia, que é a mais dificil de provar, é simplesmente que foi a vontade de D’us.


Tovia Singer: É você optimista sobre se os futuros dirigentes de Polônia serão tão partidários de Israel e dos judeus como era Lech Kaczynski?

Rabbi Schudrich: Não me cabe dúvida. É inquestionável que tanto o centro esquerda como o centro direita aquí são muito pro-israelis. Existe um partido de extrema direita chamado Liga das Famílias Polacas, que é ánti-semita, mas actualmente não têm representação parlamentária.

O Presidente em funções Brnislaw Komorovsky, contou um relato sobre judeus que trataram e salvar a um polaco. O seu tio, que vivia em Vilna, era um católico polaco que combatera contra os názis, e que foi feito preso pelos názis. Alguns dos seus amigos judeus do ghetto, reuniram dinheiro e trataram de subornar aos názis para que o deixassem sair de prisão. Fracasaram, e foi assassinado. Mas Komorowsky sempre lembrará que também houvo judeus quesalvavam aos polacos.



[Fonte: Israel National News]

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