19/02/10

SÓ PELA FORÇA


A insurgência pode classificar-se em duas modalidades: a inspirada em classes e indivíduos descontentos, e a autenticamente popular. A diferença semelha ter a ver com o tamanho dessas sociedades. Nas amplas áreas rurais de Rússia e Ucrânia, nenhuma figura política agarda ter uma influência decisiva sobre as massas de camponeses, e as revoltas são, em conseqüência, raras. Mas quando têm lugar, abarcam toda a sociedade, como se todo o corpo social estiver em ebulição (a revolta bolchevique não foi uma revolução camponesa, mas os bolcheviques lograram impô-la à sociedade rural). Nos relativamente pequenos países da Europa Ocidental, um grupo reducido de pessoas pode movilizar à sociedade inteira. Este tipo de revolta é o que caracteriza à pequena Palestina, desde a Revolta Camponesa de 1834 em Síria, instigada pelos notáveis que perderam o seu poder a favor da administração egípcia e pelos beduínos que perderam os seus ingressos procedentes das coimas nos cruzes de estradas, até a Segunda Intifada imposta à população palestiniana por uma clã militar de orige universitária. Os árabes de a pê são conservadores e reácios à guerra.

Como a maioria dos camponeses, os palestinianos são pragmáticos e zelosos dos seus interesses económicos. São capazes de sumar-se de imediato ao saqueo em bandada e ao atraco contra civis desarmados, e participam avidamente das protestas de baixa intensidade (a sua versão do que seria uma final de béisbol), mas resistem-se à implicação directa em insurrecções a longo praço. Israel, em conseqüência, sempre aplacou sem dificuldades as insurreções árabes no West Bank e Gaza, encarcerando e exilando aos seus dirigentes e a umas dúzias de comandos. As primitivas potenças ocupantes, os otomanos e Mohammad Ali, disfrutaram da grande ventagem da comunidade cultural com os árabes palestinianos, quando menos no que se refer à linguagem e a religião. Os invasores, deste modo, podiam utilizar uma estratégia muito efectiva contra as insurrecções palestinianas inspiradas por um punhado de notáveis: pondo a uns notáveis em contra dos outros (algo singelo entre os clães palestinianos, como sabemos). Israel, uma potença decididamente alheia aos árabe-palestinianos, não conta dessa liberdade de manobra e obtém piores resultados quando trata de alentar a desputa ente facções palestinianas. Em vez da política incondicional de dividir aos árabe-palestinianos tanto como seja possível em qualquer circunstância, Israel mais bem promoveu um Governo de unidade entre Fatah e Hamas –inimigos óbvios e perfeitos candidatos para uma guerra intestina ente palestinianos- impedindo desviar a atenção dos grupos terroristas do objectivo israeli.

A “moralista” Israel carece também doutro recurso estratégico do que se beneficiaram os invasores otomanos, egípcios e britânicos: a crueldade despiadada. Os árabe-palestinianos estám acostumados a tenebrosas e sémi-selvagens condições de vida, e uma crueldade rutinária que vai desde o cotidiano sacrifício de ovelhas até a brutalidade policial que padecem. A repressão de baixa intensidade nem os imuta. Os anteriores invasores punham-os firmes arrasando as aldeias que e amosavam díscolas e tomando medidas letais contra os seus rebeldes habitantes. O fracasso em exibir a agardada dose de crueldade, faz que Israel apareça aos olhos dos árabes como um ente feminino e débil, ante o que demonstrar submissão é algo logicamente desonroso. Doutra banda, a submissão a um poder cruel e “varonil”, algo assumível e, portanto, honorável para os árabes. Israel também evita -incomprensivelmnte- os castigos consistentes em atemorizar aos muçulmãos (como a decapitação ou o soterramento em pocilgas) e aos camponeses árabes (como a confiscação das suas armas de fogo e a conscripção forçosa). Os egípcios obrigaram aos seus conscriptos árabe-palestinianos abrir fogo contra os seus irmãos na revolta de 1834. Mas Israel imagina, erroneamente, que os árabes se negariam inclusso a prestar um serviço civil sustitutório. E não se negariam, não, se se lhes apreta adequadamente e o suficiente.



OBADIAH SHOHER

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