20/02/10

QUEM VOS DESTRUA SURGIRÁ ENTRE VÓS






Poucos versos bíblicos são comumente mais malinterpretados que os de Isaias 49:17, nos que o profeta promete a Israel que não tem sido desamparada, que o dia chegará em que “os vossos saqueadores e destrutores marcharão”. Mas as palavras hebreas que significam “marcharão” ou “vos deixarão” -mimech yetzei'u – podem ser também fazilmente traduzidas como “surgirão de entre vós”. E daí que, embora não estando totalmente claro o que quixo dizer Isaias, qualquer das traducções tem sentido.
Muito tem-se escrito sobre a recente confrontação entre Im Tirzu (“Se o desejades”, uma referência óbvia à famosa frase de Herzl), organização de estudantes israelis adicada a combater o que entendem como forças ánti-sionistas ou post-sionistas na sociedade israeli e nos seus cámpus univeritários, e o Novo Fundo Israeli (NIF), ao que Im Tirzu acusa de financiar muitas organizações de esquerda que contribuíram a elaborar o Informe Goldstone.

Como soe suceder, ambas partes têm agido com veemência. O vergonhoso anúncio de Im Tirzu no que aparecia Naomi Chazan (presidenta do NIF) com um corno na fronte foi dum excepcional mal gosto, evocando as caricaturas de judeus habituais no seu dia nas publicações názis e omnipresentes na imprensa árabe actual. Mas os esforços do NIF por promover a “democracia” em Israel -induvitavelmente um objectivo louvável- também merecem comentário.

Para poder extrair algo positivo da ruin batalha dialéctica entre Im Tirzu e o NIF, dedvemos admitir uma realidade evidente que eles semelham ignorar: que o Povo Judeu está em guerra.

Durante décadas os árabes acreditaram que Israel podia ser destruída acumulando exércitos. Mas, com o tempo, até os nossos mais acérrimos inimigos entenderam que era uma estratégia inútil. Desde 1973, nenhum exército árabe tem-se atrevido a atacar Israel. Nos anos seguintes, o mundo árabe optou pelo boicote económico e o terrorismo. Mas também não foram quem de destruir o Estado judeu. Tendo fracassado em todas essas frontes, o mundo árabe tem adoptado uma nova estrategia: a deslegitimação de Israel. Nela, têm-se-lhes unido países e indivíduos alheios ao Meio Leste.

E os nossos inimigos estám ganhando esta batalha no tribunal da opinião pública internacional. Stephen Walt e John Mearsheimer, Jimmy Carter, Richard Goldstone e os tribunais britânicos ditando ordes de arresto contra Tzipi Livni são os exemplos mais conhecidos. Mas a lista é muito mais ampla. Não é necessária uma imaginação muito viva para vislumbrar um cenário no que a comunidade internacional simplesmente imponha uma solução binacional nesta região. Se um não está absolutamente comprometido com a soberania judia, essa solução actualmente cobra muito sentido. Portanto, esta guerra contra a legitimidade de Israel não nos podemos permitir perdê-la.

Não é o Estado de Israel o único que está em jogo. A pervivência da judearia norteamericana, que às vezes damos por presuposta, não sobreviveria muito tempo à derrota de Israel. A fim de contas, qual é a diferença entre espanhois, franceses e italianos, duma banda, e bascos, chechenos e tibetanos doutra?

Essas seis nações têm ricas culturas, histórias, línguas ou tradições religiosas. Mas três de elas determinam o curso da história –porque possuem Estados- mentres que as três últimas são povos pelos que a história simplesmente transcorre. Israel é o que situa aos judeus na primeira categoria em vez de na segunda. E a transformação de ser objectos da história a ser protagonistas da história tem sido tão imensa que muitos judeus simplesmente são incapazes de imaginar o profundo câmbio na vida judia que implicaria que Israel se convertesse num vestígio do passado.

Devido a que esta é uma guerra de palavras com conseqüências potencialmente letais, s palavras importam mais que nunca. Assim que aqueles que acreditam que as concessões territoriais trairão a paz deveriam pensá-lo duas vezes. Deveriam questionar-se se agora, mentres a comunidade internacional se debate sobre se a re-criação do Estado Judeu foi um grave erro (e mentres Iran avança imparável face a arma nuclear, impávida às sanções occidentais), é o momento de que os judeus subam as escaleiras do Capitólio para convencer aos congressistas de que exerçam mais pressão sobre Israel.

Igualmente, poucas pessoas inteligentes negarão que as instituições democráticas israelis necessitam fortalecer-se, ou que mentres os árabe-israelis estejam em Israel, Israel debe proporcionar-lhes oportunidades económicas e participação no processo democrático israeli.

Mas o compromiso com a nossa democracia não deve ser a costa do compromiso com a nossa supervivência. Nenhum país em guerra mantém as mesmas liberdades de expressão ou acção que os países que não se enfrontam a uma ameaça existencial. Dado que o Povo Judeu está em guerra, deve pensar como o faz um povo que está em guerra.

Podemos comprender que determinados filântropos norteamericanos apoiem à organização árabe-israeli Adalah, que “promove e defende os direitos dos cidadãos árabes de Israel”. Mas o instintivo apoio a uma maior democracia não é suficiente nesta hora. Cumpre ir mais ao fundo. Adalah propõe uma “Constituição Democrática” israeli que implique o fim de Israel como Estado Judeu. É esta uma iniciativa que devam financiar indirectamente os judeus norteamericanos? A página web de Adalah critica o “ataque israeli contra Gaza”, sem fazer menção a que a Operação Liderádego Sólido –para além do que cada um pense da sua materialização- foi a resposta a anos de bombardeos desde Gaza. É essa a visão que os judeus norteamericanos devem promover mentres a comunidade internacional declara a Israel como Estado pária?

Im Tirzu não é a questão. Nem o NIF ou Naomi Chazan. A questão é que é o que se pode permitir um povo em guerra pela sua supervivência. A questão é se mentres a comunidade internacional denega a própria noção da legitimidade de Israel os judeus se podem permitir as liberdades que, noutras circunstâncias, nos permitiríamos de não estar lutando pela nossa própria supervivência. Como nos lembra o versículo de Isaias, apenas umas palavras nos separam dum porvir seguro doutro no que os que nos poderiam destruir surjam de entre nós.


DANIEL GORDIS

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