03/02/10

PROPORCIONALIDADE E HIPOCRESIA


“Derrotar o mal sempre supõe um custe. Nunca sai grátis, desagraçadamente. Mas o custe de fracassar na derrota do mal aínda é mais elevado”.
(Jamie Shea, Portavoz da OTAN nas BBC News, 31 de Maio de 1999)


O furor internacional provocado pelo Informe Goldstone e a subseguinte censura a Israel pela sua conduta na Operação Liderádego Sólido não decrece, inclusso a pesar do telão de fundo do elogiável esforço humanitário desenvolvido tras o terremoto de Haiti. É esta interminável vorâgine de condeias o que faz particularmente pertinente trair a colação as palavras com que o representante da OTAN contestou às críticas pelas numerosas baixas civis derivadas dos freqüentes ataques aéreos da Aliança durante a guerra de Kosovo entre Março e Junho de 1999.

Shea insistiu em que os aviões da OTAN apenas bombardearam “objectivos militares legítimos” e que se houvo vítimas civis foi porque a OTAN se vira obrigada a intervir militarmente. Uma vez que a intervenção foi inevitável “tratamos de fazer tudo o possível para assegurar-nos que se havia civis nas imnediações se suspendesse o ataque”, fazendo ênfase em que “a OTAN não tem como objectivo os civis; que fique absolutamente claro”.

Porém, centos de civis foram abatidos pela campanha aérea da OTAN, denominada “Operação Força Aliada”, que atacou bairros residenciais, residências de ancianos, hospitais, mercados em funcionamento, colunas de refugiados em marcha, autobuses civis e comboios cruzando pontes, e inclusso uma embaixada estrangeira [Veja.se a Táboa ressumo dalguns dos grandes incidentes].

As cifras exactas são difíceis de avaliar, mas o mínimo admitido é de quase 500 mortes de civis (que alguns elevam a mais de 1.500) –incluíndo crianças, mulkheres e ancianos, assassinados nuns 90 ataques documentados por uma Aliança que incluia as forças de Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Holanda, Itália, Tirquia, Espanha, o Reino Unido e os EEUU. Mais de 150 dessas baixas civis foram provocadas pelo uso de bombas de racimo lanzadas sobre conhecidas áreas com população civil.

Paradoxalmente, as baixas militares infligidas pela OTAN nas forças sérbias durante quase 80 dias de bombardeo aéreo, contrarrestado por um inexistente poder ánti-aéreo, foram surprendentemente baixas, rondando na maioria das estimações menos de 170 mortos.

As forças da OTAN não sofreram, pela sua banda, baixas em combate!. Isto foi principalmente devido à decisão de dirigir os ataques aéreos desde grande altura, o que reduzia enormemente o perigo para o pessoal militar aéreo da OTAN –mas incrementando-o dramática e exponencialmente para os civis sérbios (e kosovares) sobre o cenário bélico. Contrariamente ao que se passou na Operação Liderádego Sólido emprendida pelas IDF em Gaza, as populações civis dos países participantes na Operação Força Aliada em nenhum momento foram atacadas, nem sequer ameaçadas, pelas forças militares sérbias.

A transcendência de tudo isto para Israel, asediada como está pelas diatribas críticas e a censura ante a sua campanha em Gaza, é palmária. E de ela derivam-se três grandes aspectos:

  1. A irrelevância da proporcionalidade nos conflitos militares.
  2. A hipocresia sem límites da política internacional.
  3. A desastrosa incompetência da diplomácia israeli.

O tema da proporcionalidade, ou mais bem da pretendida ausência de ela, tem sido o pretexto da feroz condeia do proceder  israeli na sua operação militar em Gaza devido ao número de baixas palestinianas em comparação com as israelis. A conduta na operação militar em Kosovo de muitos dos detractores de Israel amosa, sem embargo, que eles nunca a tiveram em demassiada consideração. Pelo contrário, o modus operandi que eles adoptaram –como o referido bombardeo desde grande altura- demonstra que eles aspiraram em todo momento deliberadamente à desproporcionalidade. Como sinalámos, garantiam-se assim uma percentagem de baixas praticamente nula entre as suas tropas, mas correlativamente resultava mais dificil alcançar os pretendidos objectivos militares sobre o terreno, expondo à indedfesa população civil a perigos muitos maiores e a um mais elevado número de baixas.

O que nos conduze a sublinhar a espesa hipocresia dos críticos com Israel. O seu código de conduta dificilmente lhes outorga uma superioridade moral respeito o seu código de combate. Em contraste com o claro desprezo da OTAN face os inimigos civis, as IDF freqüentemente pugeram aos seus soldados em perigo mortal para evitar que os civis palestinianos resultassem feridos. O uso do podrio militar israeli sempre foi acorde e em resposta a uma ameaça tangível para os seus próprios cidadãos. Este, porém, não foi o caso dos ataques militares emprendidos pelas forças da OTAN contra os sérbios que, como mencionamos anteriormente, não constituiam ameaça alguma para a população civil fóra dos confins da antiga Jugoeslávia –e muito menos para a dos países participantes na aliança. Qualquer alegação de que a brutalidade sérbia justificou as severas acções da OTAN pode ser fazilmente contestada sinalando as crueis atrozidades perpetradas contra os sérbios pelos kosovares uma vez que as forças sérbias foram neutralizadas pela OTAN. Sem dúvida, a guerra civil inter-étnica nos Balcães estava empantanada numa inegável ambigüidade moral, onde resulta mais fácill saber qual das partes era mais forte e qual mais débil, mas não tanto saber quem eram os “bons” e quem os “máus”. Aínda mais, se a brutalidade é uma justificação para o uso da força desproporcionada, daquela seguramente existem poucos objectivos mais meritórios de ataque que as organizações terroristas islâmicas como Hamas, por muito lamentáveis que poidam ser os inevitáveis danos colaterais.

O descarado desprezo pela proporcionalidade dos beligerantes democráticos e a vergonhosa hipocresia das suas críticas fóra de lugar a Israel, desvelam uma deficiência cruzial –amiúde sinalada, e com a mesma freqüência ignorada- na estrutura da estrategia internacional: a incompetência e a impotença da diplomacia israeli.

A conduta na guerra de Kosovo das principais democracias mundiais deveriam proporcionar material suficiente para contrarrestar resoltamente a maior parte das pomposas condeias que se esgrimem contra Israel a todas horas. Desgraçadamente, sem embargo, não acaece assim e, embora o tratamento dos mass media israelis durante o operativo em Gaza experimentou uma melhora respeito à espantosa cobertura durante a Guerra do Líbano em 2006, aínda segue parecendo atrapado na espiral de apresentar desculpas com uma timidez que socava a sua credibilidade e capazidade persuasiva.

Para que Israel se imponha na cruzial batalha da opinião pública debe passar à ofensiva. Deve inspirar confiança e convencimento na fundamental validez moral do seu agir como nação. Não deve evitar a resposta contundente contra as difamações injustufucadas e anatemizar aos malévolos difamadores.

Não se deve acobardar à hora de convocar a todos os embaixadores dos países da OTAN num foro público, aberto aos mass media internacionais, e sinalar firmemente o arriscado que é “lanzar pedras” para aqueles que vivem em casas com “paredes de cristal”.

Não se deveria reprimir à hora de encarar aos corresponsais estrangeiros carentes de princípios –e que elaboram patranhas malévolas contra Israel- afeando-lhes sem ambigüidades o facto de que não tenham integridade profissional, e advertindo-lhes que o abuso da sua posição como jornalistas pode derivar na sua expulsão do país. Deveria deixar-se claro aos membros dos mass media internacionais residentes em Israel, e que insistem em fazer um retrato falseado e sem fundamento, que quizá tenham que seguir fazendo a sua cobertura regional desde algum país árabe –onde presumivelmente acharam uma sociedade menos criticável e deficiente.

Israel deveria fazer fincapé em que, embora sendo certo que a crítica da política israeli não constitui per se uma forma de ántisemitismo, a permanente aplicação dum duplo raseiro face o Estado Judeu no que aos abusos dos direitos humanos respeita –mentres se faz a vista gorda sobre casos avondo mais terríveis por doquier- faz que o ántisemitismo seja  cada vez mais uma explicação plausível ante tamanhe conduta.

O Governo israeli não deve aforrar nos recursos necessários para, dum modo assertivo, reemprazar o politicamente correcto pelo politicamente certo, no discurso internacional sobre o Meio Leste em geral, e sobre o conflito palestiniano-israeli em particular. Estas verdades devem ser trasladadas à atenção dos criadores de opinião política em todo o mundo –de ser preciso, contrarrestando as opiniões tendenciosas e hostis mediante campanhas nos grandes canles de comunicação.

Só medidas contundentes permitirão que Israel ganhe a batalha da opinião pública, evitando ser vítima do injusto, injustificado e injustificável doble raseiro, e garantindo que no sucessivo as operações militares de Gaza e Kosovo não sejam julgadas com critérios dispares.



MARTIN SHERMAN

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